terça-feira, 16 de outubro de 2012

Atualizar Galaxy X (Nexus) para Android 4.1.1 Jelly Bean


Como atualizar Galaxy X (Nexus) para Android 4.1.1 Jelly Bean

Transformando em YAKJU
Há umas duas semanas, a Google disponibilizou no seu site as imagens de fábricapara todos os dispositivos da linha Nexus. Bem, para quem ainda não recebeu a atualização em seu Galaxy X (ou Nexus), isso indica que você possui a forma mais segura de instalar o Jelly Bean em seu Celular, e acima de tudo muito fácil, graças a uma ferramenta desenvolvida pelo XDA Developers.

Antes de mais nada, sugiro alguns cuidados:
  • como você irá instalar uma nova imagem, irá perder todos seus dados, como contatos, mensagens, fotos, músicas, vídeos e etc. Portanto faça backup de todos os seus dados;
  • tenha plena noção de que você está fazendo essa experiência por sua conta e risco. Mas eu estou sugerindo porque fiz no meu celular e funcionou.
Levando isso em conta, vamos aos pré-requisitos:
  • A principal arma será o GNex Toolkit. Baixe a versão mais recente aqui;
  • Em segundo lugar, a imagem direto do site da Google que garante o procedimento. Mas não precisa baixar ela. Tem como fazer isso diretamente pelo GNex Toolkit;
  • Instale os drivers do Nexus pelos seguintes passos: Abra o Gnex Toolkit, aperte 5 e dê enter, aperte 1 e dê enter e siga as instruções na tela. Caso não funcione, teste estes drivers aqui.
Tudo pronto? Então agora vamos para o Tutorial:
  1. Abra o GNex Toolkit, digite "no" para procurar atualizações e escolha a opção 5 (tanto faz aqui) na escolha do dispositivo;
  2. Na página principal (Main Menu), clique na opção 9 - Download, Extract + Flash Google Factory Stock Rom;
  3. Escolha a opção 1 - Download Google Stock Image;
  4. Escolha a opção 6 - Android 4.1.1 (Build JRO03C)    [FACTORY IMAGE AVAILABLE FROM GOOGLE];
  5. O GNex Toolkit fará o download da imagem do Jelly Bean. Terminado esse processo feche o GNex Toolkit;
  6. Agora vamos colocar o seu celular no modo fastboot (fastboot mode). Para isso, basta desligar seu celular, e apertar ao mesmo tempo os botões volume para cima, volume para baixo e botão ligar. Seu celular deve ficar assim:

  1. Conecte seu celular pela entrada USB;
  2. Abra o GNex Toolkit (não se esqueça da instalação dos drivers nos pré-requisitos, senão seu celular não será reconhecido). Escolha seu dispositivo atual (provavelmente a opção 5, caso não saiba escolha ela). Deverá aparecer um número listado abaixo de "List of devices attached", logo abaixo de "FASTBOOT MODE", como na imagem abaixo:


    Caso não apareça seu celular não foi detectado. Verifique se instalou os drivers corretamente;
  3. Na página principal (Main Menu), clique na opção 3 - UnLock or Re-Lock your BootLoader.
  4. Clique na opção 1 - UnLock BootLoader;
  5. Irá pedir uma confirmação no celular. Aperte o volume para cima até chegar na opição de BootLoader, digite Yes e aperte o botão de Ligar/Desligar;
  6. Na página principal (Main Menu), clique novamente na opção 9 - Download, Extract + Flash Google Factory Stock Rom;
  7. Clique na opção 2 - Flash Google Factory Image;
  8. Leia as instruções, e caso queira mesmo ter o Jelly Bean, digite yes e dê enter.

Pronto. Operação concluída com sucesso. Teve algum problema? Gostou do resultado? Deixe sua opinião nos comentários abaixo.

Artigo Original Nov Android

OBS: TODAS AS VEZES QUE SAIR UMA ATUALIZAÇÃO BASTA FAZER ISSO:
Configurações> Programas> Todos> Estrutura de serviços da Google> Limpar dados> Forçar parada> Troque o idioma para Inglês USA e reinicie> Após reiniciar> Configurações> Sobre o Telefone> Atualizações do Sistema> Atualizar agora.
Depois de atualizar você pode voltar o idioma que você quiser!

segunda-feira, 19 de março de 2012

“imagem” e “semelhança”



 No último dia da criação, disse Deus: “ Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa 
semelhança” (Gênesis 1:26). Então, Ele terminou Seu trabalho com um “toque pessoal” – nishmat (respiração).
 Deus formou o homem do pó e deu a ele vida, compartilhando de Seu próprio fôlego (Gênesis 2:7). Desta forma,
o homem é único dentre toda a criação de Deus, tendo tanto uma parte material (corpo) como uma imaterial
(alma/espírito) – Tricotomia (corpo, alma e espírito) ou como alguns acreditam Dicotomia (corpo e  alma /espírito).

Em termos bem simples, ter a “imagem” e “semelhança” de Deus significa que fomos feitos para nos parecermos
com Deus. Adão não se pareceu com Deus no sentido de que Deus tivesse carne e sangue.      
As Escrituras dizem que Deus é espírito” (João 4:24) e portanto existe sem um corpo. Entretanto, o corpo 
de Adão espelhou a vida de Deus, ao ponto de ter sido criado em perfeita saúde e não ser sujeito à morte.

Deus soprou essa partícula dEle no homem:
- A imagem de Deus no homem
   ● Autoridade;
   ● Governo;
   ● Domínio; etc.

- A semelhança de Deus
   ● Santidade
   ● Intimidade;
   ● Comunhão; etc

    A imagem de Deus se refere à parte imaterial do homem. Ela separa o homem do mundo animal, e o encaixa
 na “dominação” que Deus pretendeu (Gênesis 1:28), e o capacita a ter comunhão com seu Criador. É 
uma semelhança mental, moral e social.
Mentalmente, o homem foi criado como um agente racional e com poder de escolha: em outras palavras, 
o homem pode raciocinar e fazer escolhas. Isto é um reflexo do intelecto e liberdade de Deus. Todas as 
vezes que alguém inventa uma máquina, escreve um livro, pinta uma paisagem, se delicia com uma sinfonia, 
faz uma conta ou dá nome a um bicho de estimação, esta pessoa está proclamando o fato de que somos feitos 
à imagem de Deus, está demonstrando seu domínio sobre as coisas, O poder de Governar e/ou gerenciar
determinadas coisas que vem a sua mão, isto é a autoridade que lhe foi outorgada lá no Éden.
Moralmente, o homem foi criado em justiça e perfeita inocência, um reflexo da santidade de Deus. Deus viu tudo
que tinha feito (incluindo a humanidade), e disse que tudo era “muito bom” (Gênesis 1:31). Nossa consciência, 
ou “bússola moral” é um vestígio daquele estado original. Todas as vezes que alguém escreve uma lei, 
volta atrás em relação ao mal, resolve olhar (agir como Jesus ordena) para seu próximo, louva o 
bom comportamento ou se sente culpado, esse alguém está confirmando o fato de que somos feitos à 
própria imagem de Deus.

A paz do Senhor Jesus Cristo.
Pb. Valentino.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO


Introdução ao Antigo Testamento

Dr. Nelson Célio de Mesquita Rocha

Rio de Janeiro – RJ
nelsonceliorocha@gmail.com

INTRODUÇÃO
         Povos antigos contribuíram para a realidade humana de diversas maneiras. Deixaram suas heranças, que influenciaram em muito outras culturas. E, dentre os diversos povos antigos, destacam-se os gregos, romanos e judeus, para o desenvolvimento histórico da humanidade, e particularmente do cristianismo.
         Vejamos a contribuição desses três grandes povos:

A contribuição dos gregos[1]
         Os gregos contribuíram para o desenvolvimento histórico da humanidade, com sua língua e habilidade intelectual. A mentalidade grega erigiu os grandiosos edifícios da mente, através da filosofia. Os grandes pensadores nasceram na Grécia: Sócrates, Platão, Aristóteles e outros. Assim como é a língua inglesa hoje no mundo moderno e o latim no mundo erudito, o grego se tornou no mundo antigo, a língua universal. Mesmo depois de o Império ser destruído ao final do quinto século, o dialeto de Atenas, que se originara da literatura grega clássica, tornou-se a língua que Alexandre, seus soldados e os comerciantes do mundo helênico, entre 338 e 146 a.C., modificaram, enriqueceram e espalharam através do mundo mediterrâneo.

A contribuição dos romanos[2]
         Os romanos são conhecidos por sua hegemonia política. Como nenhum outro povo, os romanos desenvolveram um sentido de unidade sob uma lei universal. Essa unidade se destacava pelo seu fator preponderante que foi o perfil político-administrativo do Estado. A aplicação da lei romana aos cuidados de todo o Império era imposta quotidianamente a todos os cidadãos e súditos, pela justiça imparcial das cortes romanas. Essa lei romana, com sua ênfase sobre a dignidade do indivíduo, e no direito deste à justiça e à cidadania política, contribuiu para a formação de uma mentalidade organizada. Os romanos criaram um ótimo sistema de estradas que iam do marco áureo no fórum a todas as regiões do Império. As estradas principais eram de concreto e duraram séculos.

A contribuição dos judeus[3]
         Se os gregos contribuíram com a cultura e a língua e os romanos com a política e a ótima administração, os judeus contribuíram com o aspecto religioso. Os judeus não intentavam encontrar a Deus pelos processos da razão humana, mas tiveram forte influência em suas atitudes pelo fato de que Deus os procurou e se revelou a eles na história. O judaísmo ofereceu ao mundo a esperança de um Messias que estabeleceria a justiça na terra. Essa esperança estava em antagonismo com as aspirações racionalistas dos gregos. Quanto à parte moral, o sistema ético do judaísmo ofereceu ao mundo o mais puro sistema, de elevado padrão proposto pelos Mandamentos. Essa perspectiva moral foi a contribuição do Antigo Testamento para a formação religiosa do povo judeu. A tradição veterotestamentária[4] influenciou a mentalidade neotestamentária. Enfim, essa literatura de inspiração divina,[5] denominada de “Sagrada Escritura”, não apenas é sagrada para o judaísmo, mas também para o cristianismo e para o islamismo.[6]

         Considerando que o Antigo Testamento continua sendo Sagrada Escritura para a teologia e para a Igreja cristã, é fundamental haver a necessidade de o entender corretamente, no todo e em suas partes. É fundamental que haja não um estudo superficial e pueril do Antigo Testamento. Para que não seja superficial e pueril, é preciso colocar em prática um estudo científico. Pesquisar cientificamente é a proposta da ciência introdutória[7] da Escritura, ao lado de outros processos de investigação e de interpretação.
         É preciso que se busquem no testemunho interno do Antigo Testamento duas formas principais da Palavra de Deus: a “Palavra do Senhor”, que se identifica com a “Aliança”, e a “Palavra do Senhor” anunciada pelos profetas.[8] Constituem estas a experiência do povo e ao mesmo tempo o início de uma teologia viva da palavra.
         Sobre essa ciência propedêutica e seu surgimento, é com atenção que se deve observar segundo o que segue:

Evidentemente, uma ciência propedêutica nesses termos não existiu durante séculos. De início, os rabinos transmitiam suas opiniões sobre os autores, sobre a época e o local de origem dos livros do AT, opiniões que a Igreja antiga e medieval fez suas e complementou com outras. Este estudo se efetuava, juntamente com o de outros aspectos particulares, sob a forma específica de introdução aos livros do AT, como o fez JERÔNIMO, ou no corpo de outras obras, como AGOSTINHO, em De doctrina christiana, e JUNÍLIO AFRICANO, Instituta regularia divine legis. O termo “introdução” foi usado pela primeira vez, enquanto se sabe pelo monge ADRIANO (+ cerca de 440) em seu escrito eisagogê eis tás théias grafás, “Introdução às divinas Escrituras”. Daí, com base em Isagoge e Introductio, é que surgiu o termo [alemão] Einleitung na obra de J. D. MICHAELIS (1750).[9]

         Sem Escritura Sagrada não existe cristianismo.[10] No início do cristianismo os primeiros cristãos utilizavam o Antigo Testamento como palavra de Deus. O seu conteúdo se constituiu normativo e formativo da existência cristã no seguimento de Jesus. Assim, até o Séc. II d.C. a literatura veterotestamentária dos cristãos foi a Bíblia judaica. É interessante que essa Bíblia para a cristandade primitiva, não constituía o “Antigo Testamento”, no sentido de uma revelação secundária ou até mesmo antiquada. Nem mesmo no Séc. II os evangelhos e as cartas apostólicas especificamente cristãs, surgidos sucessivamente a partir da metade do Sec. I alcançaram na Igreja a categoria de “Escritura Sagrada”. Os novos livros sagrados substituíram a Bíblia de Israel.
         Mesmo que houvesse uma luta contra a Bíblia judaica por parte de alguns opositores, como por exemplo, Marcião,[11] a Igreja se opôs a essa rejeição, e continuou se fundamentando em sua mensagem. Possui um significado programático que a Igreja tenha tornado a Bíblia de Israel a primeira parte de sua Bíblia: a Bíblia de Israel detinha a inconteste dignidade de ser revelada. Possuía autoridade e qualidade canônica. Por isso os discípulos de Jesus recorriam a ela para conferir à mensagem de Jesus comunicabilidade real, força de persuasão e validade.[12] Assim, não se lê o Antigo Testamento a partir do Novo, porém vale o contrário: o Novo Testamento é escrito a partir do Antigo.[13]
         Antigo ou Primeiro Testamento?[14] A sugestão de Antigo Testamento foi somente em face do distanciamento intencional da Igreja diante do judaísmo que criou essa designação. O próprio “Novo Testamento” desconhece um “Antigo Testamento” (Cf. Hb 8.7, 13; 9.1, 15, 18). A premissa para a designação no seio da Igreja primitiva era a de que se compreendessem os dois “Testamentos” como duas grandezas. Uma designação que resgata o pensamento da cristandade primitiva quanto a esse aspecto é utilizar Primeiro Testamento e Segundo Testamento. Na verdade, essa designação é mais bíblica do que “Antigo Testamento” (Cf. Lv 26.39-45). Assim, a primeira parte da Bíblia cristã é o fundamento básico, lançado primeiro e sobre o qual o novo agir de Deus em e por meio de Jesus e naqueles que o seguem, testemunhando no “Segundo Testamento”, se apoia, de tal modo que o Segundo constitui a atualização renovada e definitiva do Primeiro Testamento.
         A Bíblia judaica é conhecida também pelo termo Tanak. Esse termo se tornou costumeiro no judaísmo e cujas consoantes TNK, reproduzem as letras iniciais das três partes da Bíblia judaica.[15] T=Torá, Lei; N=Nebiim, profetas; K=Ketubim, Escritos. Mais recentemente emprega-se também a designação Bíblia hebraica como substituta de “Antigo Testamento”.
         Os livros da Bíblia cristã nem sempre são classificados na mesma ordem. Ainda hoje aparecem dispostos de maneiras distintas, seguindo para isso os critérios sustentados a esse respeito por diferentes tradições. A versão de João Ferreira de Almeida, em todas as suas edições, tem-se orientado mediante a norma de ordenar os livros de acordo com seu caráter e conteúdo, na seguinte forma:[16]

·         Literatura histórico-narrativa: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias, Ester;
·         Literatura poética e sapiencial (ou de sabedoria): Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos;
·         Literatura profética:
o   Profetas maiores: Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel, Daniel;
o   Profetas menores: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum,           Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.

         Na Idade Média, estudiosos judeus se destacaram em relação ao estudo do AT[17], como por exemplo: RASCHI (morto em 1105) e IBN ESRA (morto em 1167). Do lado cristão, houve a atuação de ISIDORO DE SEVILHA (+ cerca de 636), que resumiu num compêndio, o Prooemiorum liber, todo o saber de seu tempo, e de NICOLAU DE LYRA (+ cerca de 1340) que, graças aos seus conhecimentos de hebraico, pôde transmitir as obras dos sábios judeus e manter-se em contato com originais. [18]
         Sobre os pressupostos para o surgimento da ciência propedêutica da Escritura, consideram-se o humanismo e a Reforma Protestante como seus criadores.[19] Os humanistas remontavam à língua hebraica (REUCHLIN) e ao texto original. Os reformadores protestantes encontravam apoio nesse dado, exigindo uma interpretação filológica. Assim, foi surgindo a crítica textual. Os dados decisivos para a ciência propedêutica da Escritura foram dados na época do Iluminismo (Aufklärung) e do racionalismo.[20]
         Seguem alguns expoentes, segundo a relação resumida de SELLIN, E. e FOHRER, G.: [21]

·         THOMAS HOBBES - Propunha em sua obra Leviathan (III, 1651), que a época do aparecimento dos livros do AT fosse deduzida a partir destes próprios livros, independentemente da tradição.

·         B. SPINOZA - Em seu Tractatus Theologico-Politicus (1670), acrescenta à crítica feita até então com base nas contradições isoladas, e à crítica estilística, o princípio metodológico segundo o qual o indicador correto para a pesquisa do AT era “a razão natural, patrimônio comum de todos os homens, e não, consequentemente, uma iluminação sobrenatural nem uma autoridade externa”. Spinoza tratava de problemas que mais tarde se tornaram objeto da propedêutica à Escritura: a origem de cada livro, a história do cânon e dos textos.

·         R. SIMON – Com este foi dado um impulso pela análise linguística dos textos em relação, por exemplo, ao Pentateuco. Levou a primeira distinção entre as fontes, por sugestão de H. B. WITTER (1711) e J. ASTRUC (1753).

·         J. S. SEMLER – Com sua obra Abbandlung von freier Untersuchung des Canon (1711-1775) e seu Apparatus ad liberalem Veteris Testamenti interpretionem (1773), pede para o AT uma pesquisa liberta de dogmas e da tradição, e que se adotem os mesmos princípios que se aplicam a outras obras literárias.

·         Depois de J. HERDER e R. LOWTH, com sua nova consideração estética e artística, J. G. EICHHORN resumiu todas as observações e sugestões precedentes em sua Einleitung in das AT, à qual deu a forma de manual e onde trata como SPINOZA, dos três problemas referentes à origem de cada livro, à história do cânon e à história dos textos. Foi ele o fundador da ciência propedêutica da Escritura, em seu sentido formal.

         A pesquisa histórico-crítica se desenvolve e se situa primeiramente sob o influxo do método histórico e da história das religiões, como segue segundo a síntese de SELLIN, E. e FOHRER, G:

Assim, na opinião de W. M. L. DE WETTE (1806s, 1817), os livros do AT mostram-nos a evolução de suas ideias e ao mesmo tempo nos oferecem a possibilidade de estabelecer a data de origem desses livros. A contribuição básica de WETTE consistiu em ter feito a identificação entre o código de Josias e o Deuteronômio. Ao lado de H. G. EWALD (1835ss, 1840s 1843ss), devemos mencionar ainda W. VATKE (1835), o qual, sob o influxo de HEGEL, descreve a evolução da literatura do AT, tendo por pano de fundo a história de sua religião. Em contraposição, emerge a tentativa de uma renovação da tradição da sinagoga e da Igreja primitiva, por parte de E. W. HENGSTENBERG (1831ss) e K. F. KEIL (1833). Este último se empenhou em provar, por exemplo, a autenticidade do Pentateuco e do livro de Daniel, ou a unidade do livro de Zacarias. [22]

         A pesquisa histórico-crítica e seu modo decisivo não obstante aos avanços fundamentais adquiridos anteriormente por A. KUENEN (1861ss) e K. GRAF (1866 – que está ligada sobretudo ao nome de J. WELLHAUSEN (1876ss).[23] WELLHAUSEN traçou uma grande sinopse dentro da qual as fontes, estudadas do ponto de vista  literário, formavam um quadro bem definido da história de Israel, no qual, por sua vez, as próprias fontes  encontram seus respectivos lugares. Este estudioso da Escritura foi atacado e considerado hegeliano, bem como de ser evolucionista. Na realidade, muitos dos adversários de WELLHAUSEN aprenderam dele e se utilizaram de suas pesquisas e de seu método.
         Novos métodos foram surgindo, mediante a pesquisa, que têm uma ligação profunda com os nomes de H. GUNKEL e H. GRESSMANN,[24] como parte, por um lado, dos resultados obtidos pela arqueologia do Antigo Oriente e pela orientalística, aplicada aos dados da pesquisa histórica e comparativa das literaturas. A literatura do Antigo Testamento é vista no âmbito de toda a literatura do Antigo Oriente, ao passo que se investigam as relações entre as duas. Por isso, há um grande e profundo interesse dos estudiosos pela história das formas do discurso e para os gêneros literários, como para a história do material e seus motivos.
         Segue em síntese, o fluxo das obras de GUNKEL E GRESSMANN:

·         GUNKEL – A sua obra focalizou-se na filologia clássica e da germânica, exercendo papel pioneiro com relação à pesquisa dos gêneros literários. As formas de expressão e os gêneros literários tinham, na antiguidade, uma fisionomia muito mais precisa do que em nossos dias. Obedeciam a certo esquema de construção; apresentavam motivos mais ou menos fixos e possuíam determinado Sitz im Leben [situação histórica e existencial]. Como lugar de origem. O narrador ou o poeta escolhiam o gênero conforme a ocasião e o motivo, prendendo-se, porém, ao esquema básico deste gênero, de sorte que as possibilidades de variações pessoais eram limitadas, ao passo que os aspectos convencionais e típicos eram determinantes.

·         GUNKEL, e GRESSMANN logo depois dele, puseram em movimento e incentivaram principalmente a pesquisa da história dos materiais e seus motivos. A pesquisa se expandiu e se transformou em estudo da história das tradições[25] que procura reconstituir, ao longo do AT, não apenas os motivos em particular, mas as correntes da tradição resultantes da concentração de inúmeros motivos. Evidentemente, essa pesquisa foi levada a efeito sob o impacto dos resultados da arqueologia e da orientalística. Esta pesquisa se ocupa com o passado dos livros do AT e estuda o desenvolvimento progressivo da tradição, desde as camadas pré-literárias, até seu lançamento por escrito. O estudo da história da tradição não considera as unidades do texto apenas do ponto de vista de como sua forma definitiva se concretizou, mas procura seguir todo o processo através do qual as unidades surgiram.

         A função de uma introdução ao AT tem a finalidade de se empenhar por organizar o processo de exposição dos livros da Sagrada Escritura. Esse processo tem de ser objetivo, e garantindo que, ao se estudar a Bíblia mediante o crivo de elementos científicos, redundará numa convicção mais sólida, em relação à fé, evitando-se uma análise superficial.

I - AS PARTES DO ANTIGO TESTAMENTO [26]

1.1.O designativo “Bíblia”

         Ao empregar o termo “Bíblia”, a tradição sustenta por um lado que é “um livro”, por outro “uma biblioteca”.[27] O termo latino da Idade Média, biblia, em que o nome se fundamenta, foi entendido erroneamente, desde o séc. (IX?) XII como um substantivo feminino singular, de modo que surgiu a expressão “a Bíblia”. Originalmente a palavra grega ta biblia era uma forma plural, com a qual Flávio Josefo já designava a Bíblia judaica. João Crisóstomo ampliou a designação para o conjunto do Antigo e Novo Testamento. Quando o Novo Testamento se refere às “Escrituras”, às vezes designa mediante esse termo a parte correspondente ao Primeiro testamento (os Salmos e os livros de Sabedoria); muitas vezes, porém, designa o Primeiro Testamento como um todo, considerando precisamente sua multiformidade.
         Uma observação também importante, que se deve ressaltar quanto aos livros bíblicos, são as diferenças existentes entre o aspecto literário e a concepção teológica, inseridos pela tradição que os colecionou, em determinados esquemas de ordenamento. Assim, não se pode considerar, ainda que sejam vistos como grandeza única, uma unidade com um centro e uma sistemática. Uma “unidade” existe, na função de um documento canônico para o judaísmo e para a Igreja.[28]
         Há uma polifonia no Primeiro Testamento, assim como no Segundo Testamento. Há muitas camadas e vozes variadas sob diversas histórias, que não são simplesmente uma inevitável decorrência do fato dessa obra ter uma história de surgimento tão complexa e longa. Nada surgiu de modo espontâneo na literatura do Primeiro Testamento. Em grande parte, a forma complexa e contrastante do Tanak/Primeiro Testamento foi intencional. Não significa uma deficiência ou imperfeição dessa obra o fato e a maneira com que os tons, motivos e melodias, até as diferentes frases dessa sinfonia polifônica, se contrastam, interpelam, complementam e se confirmam, bem como se repetem e elaboram variações. As formas variadas que as pessoas precisam tomar conhecimento dentro do Primeiro Testamento são importantes como testemunho de Deus na história da humanidade.
         E. Zenger propõe que, ao invés de se falar em “unidade”, referindo-se ao Primeiro Testamento, é de bom alvitre falar de “nexo”.[29] Isso quer dizer que, pelo fato de todas as matérias nele transmitidas, estejam relacionadas ao único Deus de Israel, Criador do mundo e Pai de Jesus Cristo. Essa relação em torno da verdade que judeus e cristãos apelam entre si, gira em torno de Deus, que só tem sentido quando há um envolvimento no diálogo apaixonado que as muitas vozes da Bíblia conduzem entre si.
         Sobre o que a crítica histórica considerou e continua fazendo como ponto de partida de suas hipóteses acerca da complexa história do surgimento da Bíblia e de partes isoladas dela, em especial as “duplicatas”, as contradições, as diferenças semânticas e estilísticas, tudo isso não pode ser entendido como se “os revisores” e “redatores” não tivessem percebido as tensões. Segundo E. Zenger deu-se o contrário:

Constitui o específico da Bíblia que essa complexidade tenha sido propositadamente criada e mantida por interesse teológico (!). Se queremos absolutamente falar de uma “unidade” do Primeiro Testamento, ela será no máximo uma unidade complexa, cheia de tensões, assistemática e rica em contrastes. Em vez de “unidade” deveríamos falar, mais coerentemente, de um “nexo”, cuja multiformidade visa provocar para o debate e a controvérsia sobre a verdade e em torno dela.[30]

         Essa posição de E. Zenger vale de modo análogo para o Novo Testamento e para a Bíblia como um todo. Esse nexo é constituído pelo fato de estar relacionado a todas as matérias transmitidas, apontarem para o único Deus de Israel, Criador de todas as coisas.
         Há um diálogo fecundante e tenso entre as duas partes da Bíblia, percebida como una?[31] Na medida em que a Igreja manteve ao lado do NT[32] o Primeiro Testamento em sua forma textual segundo a estrutura judaica, não o retrabalhando sob uma perspectiva cristã, sugere-se que o Primeiro Testamento pode ser lido e entendido como um texto compreensível em si. Isso conduz a uma postura que compreende um isolamento entre os Testamentos. Sendo o Primeiro Testamento anterior ao Segundo Testamento e independente dele, torna-se desafiante rival do segundo. Sobre esse aspecto, E. Zenger sugere haver algo de positivo, como segue:

Quando admitimos ambos os Testamentos como rivais na disputa em tono da verdade de Deus, poderá emergir dessa correlação e desse confronto uma leitura nova, produtiva da Bíblia subdividida em duas partes. Tal leitura jamais seria possibilitada por um dos Testamentos sozinho.
Naturalmente o Primeiro Testamento só pode desempenhar seu papel de desafiante, rival e comentador do Novo Testamento quando se permite que ele tenha palavra e valor próprios – e acima de tudo não se passa por cima, com óculos cristãos, da sua multiformidade e alteridade. Tão importante quanto enfatizar, diante de formas antigas e novas de marcionismo, a continuidade de tradição e confissão do Antigo para o Novo Testamento, tão necessário é também deixar as diferenças, a fim de que possam surgir entre ambas as partes de nossa Bíblia uma disputa produtiva sobre o testemunho, expresso em ambas, em favor do Deus uno e único.[33]

         Assim, pode-se tentar entender, que há um nexo e não uma unidade entre os Testamentos, por causa de suas diferenças e contradições, contidas nos próprios escritos.
         Metodologicamente, torna-se fundamental entender que nenhum dos Testamentos tem a primazia sobre o outro.[34] Ambos possuem um valor igual, na condição de parceria na disputa e no debate que envolve a hermenêutica, no sentido de serem testemunhos distintos e concorrentes do Deus uno e único. Para os cristãos o NT não é apenas um acréscimo ou apêndice do Primeiro Testamento, e o Primeiro Testamento não é mero prefácio ou uma história introdutória ao NT. Antes, pelo contrário, formam uma grandeza polifônica, mas que não obstante soa conjuntamente, e somente assim, é “palavra de Deus”, que noticia o acontecimento dramático da redenção do mundo, cujo “último” ato vincula-se ao Messias Jesus Cristo.
         Qual é o interesse de judeus e cristãos ao lerem as Escrituras Sagradas? Com certeza não há interesse histórico, mas canônico. Lêem para ouvir a partir delas e na sua presença a interpretação vocacionadora e redentora de Deus. Isso se constitui um chamado a servir ao reino de Deus de maneiras distintas. Essas maneiras são decisivas no sentido de não haver antagonismo, mas parceria que seja respeitada.[35]

1.2.  O surgimento do cânon cristão extenso

         O cristianismo incipiente não possui cânon veterotestamentário diverso do cânon do judaísmo, do qual surgiu.[36]  O fato da Igreja antiga ter sido fiel ao cânon hebraico dos judeus, mesmo lendo seus livros na tradução grega ou latina, demonstra que “não se pode de maneira alguma afirmar que o cristianismo e o judaísmo não tinham mais nada a dizer um ao outro, após a ruptura por causa dos acontecimentos do ano 70 d.C., e que seguiram cada um seu próprio caminho”. [37]

         Somente em 400 d.C. foi reconhecido pela Igreja ocidental como “Escritura Sagrada” o “cânon da Septuaginta”,[38] mais volumoso que o Tanak. A Igreja oriental aderiu a essa decisão no Séc. VII. Já os Reformadores excluíram do cânon todos os livros e fragmentos de livros que não existiam na forma textual hebraica. Em oposição a esse procedimento dos Reformadores, se manifestou contrário o Concílio de Trento, em 1546, que os livros Tobias, Judite, Sabedoria de Salomão, Sirácida, Baruc e dois livros dos Macabeus, todos existentes em língua grega, devem vigorar como canônicos, ao passo que a oração de Manassés e os 3o e 4o livros de Esdras não seriam mais aceitos como canônicos. Em 1672 a Igreja oriental decidiu-se a favor de Tobias, Judite, Sirácida e Sabedoria de Salomão. Assim, até o dia de hoje a delimitação do cânon não é uniforme nas igrejas cristãs.

II - ASPECTOS GERAIS DO ANTIGO TESTAMENTO

         Por aspectos gerais do Primeiro Testamento entende-se aquilo que concerne às partes constitutivas de uma obra extensa e profundamente rica. O surgimento do cânone como marco histórico das “Escrituras” que têm um cunho educativo. As épocas da história de Israel, ainda que em síntese, terão lugar nesse desenvolvimento, juntamente com os elementos da história da sociedade.[39]      

2.1. As partes do Antigo Testamento
         No Segundo Testamento o Primeiro Testamento é citado como autoridade (Lc 10.25 ss), como “Escritura inspirada pelo Espírito de Deus” (2 Tm 3.16).[40] Esta designação reflete o alto conceito de que goza e que, em certo sentido, é singular; não deve ser mal-entendida, contudo, no sentido de que o Primeiro Testamento seja por sua natureza palavra codificada na escrita, o Segundo Testamento, ao contrário, palavra viva, comunicada oralmente. Pois uma parte do PT[41], sobretudo na mensagem profética, originou-se da pregação oral e mais tarde foi lida e comentada no culto (Ne 8.8; Lc 4.17).
         O Primeiro Testamento no seu todo é perifraseado no Segundo Testamento[42] também como “lei” (Jo 12.34; 1 Co 14.21 e outras), mais especificamente como “lei e os profetas” ou “Moisés e os profetas” (Mt 7.12; Lc 16.16,29; Rm 3.21 e outras) e, por fim, uma vez como “Moisés, os profetas e os salmos” (Lc 24.44). Essa designação, porém, implica um possível mal-entendido: o PT seria por sua natureza legalista. A “lei”, contudo, não tem apenas caráter de mandamento (cf. Mt 22.40), mas também de profecia (Jo 15.25; Mt 11.13 e outras). Uma interpretação legalista de forma alguma corresponde à autocompreensão do Primeiro Testamento.[43]
         Quando se verifica a expressão “Moisés, os profetas e os salmos”, reflete-se a estruturação do Primeiro Testamento. Uma divisão semelhante do PT em três partes encontramos já por volta de 130 a.C. no prefácio da tradução grega dos ditos (apócrifos) de Jesus Siraque. Ainda hoje se usa no judaísmo – ao lado de nomes como miqra’, “a leitura, o livro a ser lido” – a sigla TNK (pronunciada tenak) para designar a Bíblia. Ela compõe-se das consoantes iniciais dos nomes das três partes do PT.[44]

·         T - Tora, ou seja, a “instrução”, os cinco livros de Moisés: Gn, Êx, Lv, Nm, Dt;
·         N - Nebiim, ou seja, os “profetas” (inclusive os livros históricos Js – Rs);
·       K - Ketubim, ou seja, as (sagradas) “Escrituras” restantes, como os Salmos e o livro de Jó.
        
         Em contraposição, a tradução grega do PT, a Septuaginta (LXX), é antes quadripartida e, além disso, mais volumosa, visto que contêm em maior ou menos medida também os assim chamados escritos apócrifos (como Macabeus, Baruque ou Jesus Siraque). Compreende os seguintes livros:

·         Lei                - (Gn-Dt);
·         Históricos - (Js, Jz, Rt, Sm, Rs, Cr, Ed, Ne, Mac e outros);
·         Poéticos    - (Sl, Pv, Ec, Ct, Jó e outros);
·         Proféticos - (o Livro dos Doze Profetas Menores, Is, Jr, Lm, Ez e outros).
        
         A estrutura da tradição cristã é descrita conforme segue abaixo:

·         Literatura histórico-narrativa: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias, Ester;
·         Literatura poética e sapiencial (ou de sabedoria): Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos;
·         Literatura profética:
o   Profetas maiores: Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel, Daniel;
o   Profetas menores: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum,        Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias.

2.2. Nome e estrutura
·         O AT se tornou “antigo” devido ao NT.
·         O profeta Jeremias anuncia a promessa de uma Nova Aliança (Jr 31.31ss), que           substituirá a Antiga Aliança rompida.
·         O NT relaciona a promessa profética com o futuro que irrompeu em Jesus (Cf. 2 Co 3;          Hb 8).
·         No NT o AT é citado como autoridade (Lc 10.25ss); como “Escritura inspirada pelo             Espírito de Deus” (2 Tm 3.15).
·         O AT é considerado “A Escritura” ou “As Escrituras” pura e simplesmente (Lc 4.21;            24.27 ss e outras).
·         Uma parte considerável do AT, sobretudo na mensagem profética, originou-se da     pregação oral e mais tarde foi lida e comentada no culto (Ne 8.8.; Lc 4.17).
·               O AT no seu todo é perifraseado no NT também como “Lei” (Jo 12.34; 1 Co 14.21 e outras). Mais especificamente como “Lei e os Profetas” ou “Moisés e os Profetas” (MT 7.12; Lc 16.16, 29; Rm 3.21 e outras).

o   AT è Fórmula bipartida: Lei e os Profetas e Moisés e os Profetas.
o   AT è Fórmula tripartida: Moisés, os Profetas e os Salmos

·               Uma divisão em três partes se encontra por volta do ano 130 a.C. no prefácio da tradução grega dos ditos (apócrifos) de Jesus Siraque.
·         A sigla TNK (TANAK) – para designar a Bíblia Hebraica.
·         A palavra Tanach (ou Tanakh) (em letras hebraicas: תנך) é uma palavra da língua        hebraica, que foi formada com as iniciais das palavras Torá, Neviim e Chetuvim (em     letras hebraicas: תורה, נביאים וכתובים), que significam “Lei, Profetas e Escritos”, que são       as três partes da Bíblia hebraica.
·         Torá (ou Torah), que significa Lei, é o nome da primeira parte da Bíblia, que é           constituída pelos cinco primeiros livros da Bíblia, que são Gênesis, Êxodo, Levítico,      Números e Deuteronômio. Estes cinco primeiros livros da Bíblia, na verdade são um       só livro, chamado “O Livro da Lei” (em hebraico, Sêfer Torá), ou simplesmente “A            Lei” (Torá), ou “A Lei de Deus”, ou “A Lei de Javé”, ou “A Lei de Moisés”, ou     Pentateuco (em hebraico, Chumash”).
·         Neviim, que significa Profetas, é o nome da segunda parte da Bíblia, que é constituída         pelos livros de Josué, Juízes, 1 Samuel, 2 Samuel, 1 Reis, 2 Reis, Isaías, Jeremias,             Ezequiel, Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias,           Ageu, Zacarias e Malaquias.
·         Chetuvim, que significa Escritos, é o nome da terceira parte da Bíblia, que é constituída pelos livros de Salmos, Jó, Provérbios, Rute, Cântico dos Cânticos,     Eclesiastes, Lamentações, Ester, Daniel, Esdras, Neemias, 1 Crônicas e 2 Crônicas.
·         Ao todo, o Tanach tem 39 livros.
·         O Tanach é chamado pelos católicos e protestantes, ou evangélicos, de Antigo          Testamento, sendo que o Antigo Testamento dos católicos contém também, além dos       livros do Tanach, mais sete livros, que são livros apócrifos, que eles chamam de     “deuterocanônicos”, e contém também adições ao livro de Ester e adições ao livro de           Daniel.
·         O Tanach é a parte incontroversa da Bíblia, pois a Bíblia é um conjunto de livros       inspirados por Deus.
·         A lista de livros considerados inspirados por Deus se chama “cânon”.
·         A palavra “cânon” é derivada da palavra grega “kanon”, que significa “regra”.
·         A Septuaginta (LXX) é quadripartida – mais volumosa, porque contém os chamados            Livros Apócrifos (como Macabeus, Baruque ou Jesus Siraque).
·         A Septuaginta foi a primeira tradução do Antigo Testamento hebraico, feita em grego          popular antes da Era Cristã.

2.3. Importância Histórica da Septuaginta
         A importância da versão da Septuaginta é representada pelas seguintes considerações:

·         A Septuaginta é a mais antiga tradução do Antigo Testamento e, consequentemente, de       valor incalculável para os críticos compreenderem e corrigirem o texto hebraico       (Massorético), que é posterior - aquele que chegou até nós - pois foi estabelecido pelos       massoretas no Séc. VI d.C. Muitas corrupções textuais, adições, omissões ou          transposições foram incorporadas ao texto hebraico entre os Séculos III-II a.C. e VII         d.C.; assim, os manuscritos da Septuaginta colocados à disposição dos críticos podem      ser bem melhor compreendidos em alguns pontos que os manuscritos massoréticos.
·         A versão da Septuaginta - primeiramente aceita pelos judeus de Alexandria e, mais   tarde, por todas as nações de língua grega - auxiliou na expansão, entre os gentios, da      ideia e expectativa do Messias, e introduziu a terminologia teológica no grego,     tornando-a o melhor instrumento para a propagação do Evangelho de Cristo.
·                Os judeus a usaram muito antes da Era Cristã e, no tempo de Cristo, a LXX foi reconhecida como texto legítimo, tendo sido inclusive empregada na Palestina pelos rabinos. Os apóstolos e evangelistas a usaram também e fizeram citações do Antigo Testamento a partir dela, especialmente no que diz respeito às profecias. Os pais da igreja e outros          escritores eclesiásticos da Igreja primitiva citavam-na diretamente - no caso dos pais gregos - ou indiretamente - no caso dos pais e escritores latinos e outros que empregavam as versões latinas, siríacas, etíopes, árabes e góticas. Seguramente, era tida em grande estima por todos, chegando alguns a acreditar que era inspirada. Consequentemente, o conhecimento da Septuaginta auxilia na perfeita compreensão dessas literaturas [da Igreja primitiva].
·         Atualmente, a Septuaginta é o texto oficial da Igreja grega e as antigas versões latinas          usadas pela Igreja ocidental também foram feitas a partir dela; a mais antiga tradução       adotada pela Igreja latina - a Vetus Ítala - foi preparada diretamente sobre a Septuaginta: as ideias adotadas nela, os nomes e palavras gregas empregadas (tais   como: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números [Arithmoi], Deuteronômio) e, finalmente, a         pronúncia dada ao texto hebraico, passaram frequentemente para a Ítala e, a partir    desta, às vezes, para a Vulgata, que não raramente, apresenta sinais da influência da          Vetus Ítala (principalmente nos Salmos: a tradução da Vulgata é meramente o texto da    Vetus Ítala corrigido por São Jerônimo conforme o texto da Septuaginta encontrado na             Hexápla [de Orígenes]).

2.4. Origem da Septuaginta Segundo a Tradição
          A versão da Septuaginta é primeiramente mencionada na Carta de Aristéias ao seu irmão Filócrates. Aqui está, substancialmente, o que lemos sobre a origem de tal versão:          

·         Ptolomeu II Filadélfo, rei do Egito (287-247 a.C.) tinha estabelecido recentemente uma valiosa biblioteca em Alexandria. Ele foi persuadido por Demétrio de Fálaro - responsável pela biblioteca - a enriquecê-la com uma cópia dos livros sagrados dos judeus. Para conquistar as boas graças deste povo, Ptolomeu, por conselho de Aristéias - oficial da guarda real, egípcio de nascimento e pagão por religião - emancipou 100 mil escravos de diversas regiões de seu reino. Ele, então, enviou representantes - entre os quais Aristéias - a Jerusalém e pediu a Eliazar - o sumo-sacerdote dos judeus - para que fornecesse uma cópia da Lei e judeus capazes de traduzi-la para o grego. A embaixada obteve sucesso: uma cópia da Lei ricamente ornamentada foi enviada para o Egito, acompanhada por 72 israelitas - seis de cada tribo - para atender o desejo do rei. Estes foram recebidos com grande honra e durante sete dias surpreenderam a todos pela sabedoria que possuíam, demonstrada em respostas que deram a 72 questões; então, eles foram levados para a isolada ilha de Faros e ali iniciaram os seus trabalhos, traduzindo a Lei, ajudando uns aos outros e comparando as traduções conforme iam terminando. Ao final de 72 dias, a tarefa estava concluída. A tradução foi lida na presença de sacerdotes judeus, príncipes e povo reunidos em Alexandria; a tradução foi reconhecida por todos e declarada em perfeita conformidade com o original hebraico. O rei ficou profundamente satisfeito com a obra e a depositou na sua biblioteca.

          Ainda que possua características lendárias, a narrativa de Aristéias ganhou crédito. Aristóbulo (170-50 a.C.), em uma passagem preservada por Eusébio, afirma que “através dos esforços de Demétrios de Fálero, uma tradução completa da legislação judaica foi realizada nos dias de Ptolomeu”; o relato de Aristéias é repetido quase que literalmente por Flávio Josefo (Ant.Jud. XII,2) e substancialmente - com a omissão do nome de Aristéias - por Filo de Alexandria (De Vita Moysis II,6).
          A carta e o relato foram aceitos como genuínos por muitos pais e escritores eclesiásticos até o início do Séc. XVI; outros detalhes que serviram para enfatizar a extraordinária origem da versão foram acrescentados ao relato de Aristéias: os 72 intérpretes foram inspirados por Deus (Tertuliano, Santo Agostinho, o autor de “Exortação aos Gregos” [Justino?], entre outros); durante a tradução eles não consultaram uns aos outros, pois foram mantidos em celas separadas - quer individuais, quer em duplas - e suas traduções, quando comparadas, estavam em perfeita concordância com o sentido e expressões empregadas no texto original e, inclusive, de umas com as outras (“Exortação aos Gregos”, Santo Irineu, São Clemente de Alexandria - São Jerônimo rejeitou o relato das celas isoladas afirmando que era fantasioso e falso (Praef. in Pentateuchum; Adv. Rufinum II, 25), bem como a alegada inspiração da Septuaginta); e, finalmente, de que os 72 intérpretes traduziram não apenas os cinco livros do Pentateuco mas todo o Antigo Testamento hebraico.
          A autenticidade da Carta, posta em dúvida primeiramente por Louis Vivès (1492-1540), professor em Louvain (Ad S. August. Civ. Dei XVIII, 42), e, depois, por Jos Scaliger (+1609) e, especialmente, por H. Hody (+1705) e Dupin (d. 1719), é atualmente negada por todos.

Críticas
         A Carta de Aristéias é certamente apócrifa. O escritor, que chama a si mesmo de Aristéias e declara-se grego e pagão, mostra, no decorrer de toda a sua obra, que, na verdade, é um judeu piedoso e zeloso: ele reconhece o Deus dos judeus como o único Deus; ele declara que Deus é o autor da Lei Mosaica; ele é um admirador entusiástico do Templo de Jerusalém, da terra e do povo judeu e de suas leis sagradas e homens cultos.
         A narrativa da Carta deve ser considerada como fantasiosa e lendária, no mínimo em várias partes. Alguns detalhes, como a intervenção oficial do rei ao sumo-sacerdote, o número de 72 tradutores, as 72 questões que tiveram que responder e os 72 dias que levaram para traduzir a Lei são, claramente, afirmativas arbitrárias; além disso, é difícil de se admitir que os judeus alexandrinos tenham adotado para o seu culto público uma tradução da Lei feita a pedido de um rei pagão; finalmente, a linguagem da versão da Septuaginta denuncia, em vários pontos, um conhecimento imperfeito do hebraico e da topografia da Palestina, correspondendo muito mais ao idioma vulgar da Alexandria.
         Já que não é certo que todo o conteúdo da Carta seja lendário, os estudiosos questionam se não existe algum fundamento histórico disfarçado sob os detalhes lendários. Realmente isso pode ser possível - como se depreende da natureza peculiar da linguagem bem como sobre o que sabemos a respeito da origem e história da versão - já que o Pentateuco foi mesmo traduzido em Alexandria. Também parece verdadeiro que a versão date do tempo de Ptolomeu Filadélfo, isto é, de meados do Séc. III a.C.. Mas se, como comumente se acredita, a Carta de Aristéias foi escrita por volta de 200 a.C., 50 anos após a morte de Filadélfo, com vistas a aumentar a autoridade da versão grega da Lei, poderia ter sido aceita tão facilmente e rapidamente difundida caso fosse fictícia ou se o tempo de sua composição não correspondesse à realidade? E mais: é possível que Ptolomeu tenha realmente alguma espécie de relacionamento com a preparação ou publicação da tradução, embora como e porque não possa ser determinado agora. Teria sido com o objetivo de enriquecer sua biblioteca, como declara o pseudo-Aristéias? Isto é possível, mas não pode ser provado, como será demonstrado abaixo; mas podemos muito bem descrever a origem da versão independentemente do rei.
         Os pequenos detalhes acrescidos durante o passar dos anos ao relato de Aristéias não podem ser aceitos; tais acréscimos são: a estória das celas (explicitamente rejeitada por São Jerônimo); a inspiração dos tradutores (uma opinião certamente baseada na lenda das celas); o número de tradutores (72 - v. abaixo); a afirmativa de que todos os livros hebraicos foram traduzidos ao mesmo tempo (Aristéias fala da tradução da Lei (nomos), da legislação (nomothesia), dos livros do legislador - estas expressões, especialmente as duas últimas, certamente se referem ao Pentateuco e excluem os outros livros do Antigo Testamento, e São Jerônimo (Comment. in Mich.) declara: “Josefo escreveu, e os hebreus nos informaram, que apenas os cinco livros de Moisés foram traduzidos por eles (os 72) e dados ao rei Ptolomeu”. Por outro lado, as versões dos diversos livros do Antigo Testamento diferem muito no vocabulário, estilo, forma e características, às vezes seguem uma tradução livre, outras vezes, extremamente literal, o que demonstra que elas não seriam obra dos mesmos tradutores. Apesar disso e de todas as divergências, o nome de “versão da Septuaginta” é universalmente dado à coleção completa dos livros do Antigo Testamento existentes na Bíblia grega adotada pela Igreja oriental.

Origem segundo o ponto de vista comumente aceito
         Como para o Pentateuco o seguinte ponto de vista parece plausível, podemos também aceitar em linhas gerais: os judeus, nos dois últimos séculos antes de Cristo, eram tão numerosos no Egito, especialmente em Alexandria, que, em certo momento, passaram a constituir 2/5 da população total. Pouco a pouco a maioria deles deixou de usar ou esqueceu a língua hebraica em grande parte, caindo no perigo de esquecer a Lei. Consequentemente tornou-se costumeiro interpretar na língua grega a Lei que era lida nas sinagogas e, naturalmente, após certo tempo, alguns homens zelosos pela Lei resolveram compilar uma tradução grega do Pentateuco. Isto ocorreu por volta de meados do Séc. III a.C.
         Para os demais livros hebraicos - os proféticos e históricos - foi natural que os judeus alexandrinos, fazendo uso do Pentateuco traduzido em suas reuniões litúrgicas, desejassem também a tradução destes; então, gradualmente, todos os livros foram sendo traduzidos para o grego, que se tornara a língua maternal destes judeus; tal exigência aumentava conforme o seu conhecimento de hebraico ia reduzindo dia a dia. Não é possível determinar com precisão o tempo ou os eventos que levaram a estas diferentes traduções; mas é certo que a Lei, os Profetas e, ao menos, parte dos outros livros (i.é, os Hagiógrafos) existiam antes do ano 130 a.C., como aparece no prólogo do Eclesiástico, que não data abaixo deste ano. É difícil determinar também onde as diversas traduções foram feitas, pois as informações são muito escassas. A julgar pelas palavras e expressões egípcias que ocorrem na versão, a maioria dos livros deve ter sido traduzida no Egito, muito provavelmente em Alexandria. O livro de Ester, entretanto, foi traduzido em Jerusalém (XI, 1).
         Quem e quantos eram os tradutores? Existe algum fundamento para o número de 72, como declara a lenda? Parece impossível responder essas questões; os talmudistas dizem que o Pentateuco foi traduzido por cinco intérpretes (Sopherim, c.1.). A história não nos oferece outros detalhes, mas um exame do texto mostra que, em geral, os autores não eram judeus palestinenses enviados ao Egito; diferenças de terminologia, método etc. provam claramente que os tradutores não eram os mesmos para os diferentes livros. É impossível também dizer se a obra foi executada oficial ou privativamente, como parece ser o caso de Eclesiástico; contudo, os diferentes livros, depois de traduzidos e dispostos em conjunto (o autor de Eclesiástico conhecia a coleção), foram recebidos como oficiais pelos judeus de língua grega.

História Subsequente - Recensões
         A versão grega, conhecida como Septuaginta, foi bem acolhida pelos judeus alexandrinos, que logo a difundiu pelas nações onde o grego era falado; foi usada por diferentes escritores e suplantou o texto original nas cerimônias litúrgicas. Filon de Alexandria a utilizou em seus escritos e considerava os tradutores profetas inspirados; finalmente, ela foi acolhida pelos judeus da Palestina e foi notavelmente empregada por Josefo, historiador judeu palestinense. Sabemos também que os escritores do Novo Testamento fizeram uso dela, utilizando-a na maioria de suas citações. Ela tornou-se o Antigo Testamento da Igreja e foi altamente estimada pelos cristãos primitivos, de modo que muitos escritores e pais da Igreja declararam-na inspirada. Os cristãos recorriam a ela constantemente em suas controvérsias com os judeus; estes logo reconheceram suas imperfeições e, finalmente, a rejeitaram em favor do texto hebraico ou de traduções mais literais (Áquila e Teodocião).

Correções críticas de Orígenes, Luciano e Hesíquio
         Em razão de sua difusão entre os judeus helenizantes e cristão primitivos, as cópias da Septuaginta passaram a se multiplicar e, como seria de se esperar, muitas alterações - algumas propositais, outras involuntárias - foram surgindo. Logo se sentiu a necessidade de restaurar o texto à sua pureza original.
         Eis um brevíssimo relato das tentativas de correção:

·         Orígenes reproduziu o texto da Septuaginta na quinta coluna de sua Hexápla. Marcou com obeli os textos que ocorriam na Septuaginta e que não se encontravam no original; adicionou de acordo com a versão de Teodocião e distinguiu com asteriscos e metobeli os textos do original que não se encontravam na Septuaginta; adotou das variantes da versão grega os textos que eram mais próximos ao hebraico; e, finalmente, transpôs o texto onde a ordem da Septuaginta não correspondia à ordem do texto hebraico. Sua recensão, copiada por Pânfilo e Eusébio, foi chamada de Hexápla para distingui-la da versão previamente empregada, chamada comum, vulgar, koiné ou antehexápla. Foi adotada na Palestina.
·         São Luciano, sacerdote de Antioquia e mártir, no início do Séc. IV publicou uma edição corrigida de acordo com o hebraico; tal edição reteve o nome de koiné, edição vulgar, e, às vezes, é chamada de Loukianos após o nome de seu autor. No tempo de São Jerônimo, estava sendo usada em Constantinopla e Antioquia.
·         Finalmente, Hesíquio, um bispo egípcio, publicou, quase que ao mesmo tempo, uma nova recensão, difundida principalmente no Egito.

Manuscritos
         Os três manuscritos mais conhecidos da Septuaginta são:

1.      O Vaticano (Codex Vaticanus), do Séc. IV;
2.      O Alexandrino (Codex Alexandrinus), do Séc. V, atualmente no Museu Britânico de Londres;
3.      E o do Monte Sinai (Codex Sinaiticus), do Séc. IV, descoberto por Tischendorf no convento de Santa Catarina, no Monte Sinai, em 1844 e 1849, sendo que parte se encontra em Leipzig e parte em São Petersburgo.

Todos foram escritos em unciais. O Codex Vaticanus é o mais puro dos três; é geralmente tido como o texto mais antigo, embora o Codex Alexandrinus carregue consigo o texto da Hexápla e tenha sido alterado segundo o texto massorético. O Codex Vaticanus é referido pela letra B; o Codex Alexandrinus, pela letra A; e o Codex Sinaiticus, pela primeira letra do alfabeto hebraico (aleph) ou S. A Biblioteca Nacional de Paris possui também um importante palimpsesto manuscrito da Septuaginta, o Codex Ephraemirescriptus (designado pela letra C) e dois manuscritos de menor valor (64 e 114), em cursivas, um pertencente ao séc. X ou XI e o outro, ao séc. XIII (Bacuez e Vigouroux, 12ª ed., nº 109).

Edições Impressas
·         Todas as edições impressas da Septuaginta são derivadas das três recensões acima citadas.
·         A Editio Princeps é a da Complutensiana ou de Alcalá. Provém da Hexápla de Orígenes. Impressa em 1514-18, não foi publicada até aparecer na Poliglota do card. Ximenes, em 1520.
·         A edição Aldine (iniciada por Aldo Manúcio) apareceu em Veneza em 1518. O texto é mais puro que a edição Complutensiana e está mais próxima do Códice B. O editor diz que colecionou manuscritos antigos mais não os especifica. Foi reimpressa várias vezes.
·         A mais importante edição é a Romana ou Sixtina, que reproduz quase que exclusivamente o Codex Vaticanus. Foi publicada sob a direção do card. Caraffa, com o auxílio de vários sábios, em 1586, sob a autoridade de Sixto V, com o objetivo de socorrer os revisores que preparavam a nova edição da Vulgata latina ordenada pelo Concílio de Trento. Tornou-se, assim, o textus receptus do Antigo Testamento grego e teve diversas novas edições, tais como a de Holmes e Pearsons (Oxford, 1798-1827), as sete edições de Tischendorf, que apareceram em Leipzig entre 1850 e 1887 (as duas últimas publicadas após a morte do autor e revisadas por Nestle), as quatro edições de Swete (Cambridge, 1887-95, 1901, 1909), etc.
·         A edição de Grabe, publicada em Oxford de 1707 a 1720, reproduzindo, imperfeitamente, o Codex Alexandrinus de Londres.
·         Para edições parciais, v. Vigouroux, "Dicionário da Bíblia", pp. 1643ss.

Valor Crítico e Linguagem
         A versão da Septuaginta, embora ofereça exatamente em forma e substância o verdadeiro sentido dos Livros Sagrados, difere consideravelmente do atual texto hebraico (Massorético). Essas discrepâncias, porém, não são de grande importância, mas apenas assunto de interpretação. Podem ser assim classificadas: algumas são oriundas dos tradutores que tiveram à sua disposição recensões hebraicas diferentes daquelas que são conhecidas como massoréticas; às vezes os textos variam, outras vezes, os textos são idênticos, mas lidos em ordem diferente.
         Outras discrepâncias devem-se à personalidade dos tradutores; para não se falar da influência exercida em suas obras em razão de seus métodos de interpretação, as dificuldades inerentes da tarefa, seus maiores ou menores conhecimentos de grego e hebraico: eles acabaram traduzindo diferentemente dos massoretas justamente porque liam os textos de forma diferente; é, pois natural que o hebraico, escrito em caracteres quadrados, e certas consoantes bem similares na forma fosse vez ou outra, confundido, ocasionando erros de tradução; mais: o texto hebraico era escrito sem qualquer espaçamento entre as palavras e os tradutores facilmente poderiam confundir a separação das palavras; finalmente, como o texto hebraico não dispunha de vogais, eles poderiam suprir as palavras com vogais diversas daquelas que foram usadas mais tarde pelos massoretas.
         Novamente, não devemos achar que possuímos atualmente o exato texto grego como foi escrito pelos tradutores; as frequentes transcrições feitas durante os primeiros séculos, assim como as correções e edições de Orígenes, Luciano e Hesíquio danificaram a pureza do texto: voluntária ou involuntariamente, os copistas permitiram a ocorrência de muitas corrupções textuais, transposições, adições e omissões no texto primitivo da Septuaginta. Em particular, podemos notar a adição de passagens paralelas, notas explanatórias ou traduções duvidosas causadas pelas notas marginais. [45]

Linguagem
         Todos admitem que a versão da Septuaginta foi redigida em grego popular, a koine dislektos. Mas o grego do Antigo Testamento era um idioma especial? Muitas autoridades garantem que sim, embora discordem quanto à sua real característica. O “Dicionário da Bíblia”, em seu verbete “Grego bíblico”, assegura que era “o grego hebraizante falado pela comunidade judaica de Alexandria”, o grego popular de Alexandria “com uma larga mistura de hebraísmos”. O mesmo dicionário, no verbete “Septante”, menciona a mais recente opinião de Deissmann de que o grego da Septuaginta é meramente o grego vernacular ordinário, a pura koine daquela época. Deissmann baseia sua teoria na semelhança perfeita da linguagem da Septuaginta com a dos papiros e inscrições do mesmo período; ele acredita que as peculiaridades sintáticas da Septuaginta, que a princípio parecem favorecer a teoria de uma linguagem especial (um grego hebraicizado), são suficientemente explicadas pelo fato da Septuaginta ser a tradução grega de livros hebraicos.

Divisão
·         Lei:                       Gn – Dt
·         Históricos:            Js, Jz, RT, Sm, Rs, Cr, Ed, Ne, Mac e outros.
·         Poéticos:               Sl, Pv, Ec, Ct, Jó e outros.
·         Proféticos:            O Livro dos Doze Profetas Menores, Is, Jr, Lm, Ez e outros.
·         Tradição Cristã diferente da Tradição Judaica.

III - O SURGIMENTO DO CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO

·         Processo histórico.
·         A parte mais antiga – o Pentateuco – Forma atual – Séc. V ou IV a.C.
·         A tradução grega – Séc. III a.C.
·         Os Escritos.
·         A extensão de todo o AT – Somente foi determinada em fins do Século I d.C. – No            Sínodo de Jabne-Jâmnia.

1.1.  O surgimento do cânon
            O cristianismo incipiente não possui cânon veterotestamentário diverso do cânon do judaísmo, do qual surgiu. [46] Somente em 400 d.C. foi reconhecido pela Igreja ocidental como “Escritura Sagrada” o “cânon da Septuaginta”, mais volumoso que o Tanak. A Igreja oriental aderiu a essa decisão no Séc. VII. Os Reformadores excluíram do cânon todos os livros e fragmentos de livros que não existiam na forma textual hebraica.
         Contra isso o Concílio de Trento determinou, em 1546, que os livros Tobias, Judite, Sabedoria de Salomão, Sirácida, Baruc, e os dois livros de Macabeus, todos existentes em língua grega, devem vigorar como canônicos, ao passo que a oração de Manassés e os 3º e 4º livros de Esdras não seriam (mais) aceitos como canônicos. Em 1672 a Igreja oriental decidiu-se a favor de Tobias, Judite, Sirácida e Sabedoria de Salomão.
         Até os dias de hoje a delimitação do cânon não é uniforme nas igrejas cristãs e também é considerada teologicamente de maneiras diferentes.
         Apesar das Igrejas da Reforma, em termos de conteúdo, terem retornado ao cânon da Bíblia judaica (a motivação de fundo dos Reformadores era a ideia da veritas hebraica como “texto original”), elas mantiveram a sistemática da Igreja antiga na estruturação do Antigo Testamento. É verdade que na Igreja antiga, assim como na Igreja Ortodoxa e na Romana, possuíam valor quase canônico respectivamente a versão grega e a versão latina, acima de tudo para a liturgia. Hoje vale na prática a versão original como texto canônico da Bíblia cristã.
         O primeiro Testamento agrupa os livros que são semelhantes conforme o tipo, dando a alguns deles uma nova posição. Desse modo surge no seu complexo uma estrutura quadripartida e de cunho histórico-teológico.
        
·   Gênesis
·   Êxodo
·   Levítico
·   Números

·   Josué
·   Juízes
·   Rute
·   I Samuel
·   II Samuel
·   I Reis
·   II Reis
·   I Crônicas
·   II Crônicas
·   Esdras
·   Neemias
·   Tobias
·   Judite
·   Ester
·   I Macabeus
·   II Macabeus

·         (ou Job)
·         Salmos
·         Provérbios
·         Eclesiastes (Coélet)
·         Cânticos dos Cânticos
·         Sabedoria
·         Eclesiástico (Sirácida)

·         Isaías
·         Jeremias
·         Lamentações
·         Baruc
·         Ezequiel
·         Daniel
·         Oséias
·         Joel
·         Amós
·         Obadias (ou Abdias)
·         Jonas
·         Miquéias
·         Naum
·         Habacuque (ou Habacuc)
·         Sofonias
·         Ageu
·         Zacarias
·         Malaquias

         De acordo coma tradição judaica (Midrash Rabbah 12:12) o Canon Judaico é composto de 24 livros que se agrupam em 3 conjuntos: A Lei ou Instrução, Os Profetas e Os Escritos. Os livros de 1 e 2 Samuel, são reunidos em um só livro, e 1 Reis e 2 Reis, também são considerados um só livro, assim como os 12 profetas "menores" estão em um só livro - "Os 12 profetas". A ordem do Cânon é apresentada abaixo:

Torá ( תורה )

Instrução (Os 5 de Moisés) (5)

·   Gênesis
·   Êxodo
·   Levítico
·   Números

Neviim ( נביאים)

Profetas (8)

·   Anteriores (4)
o    Josué
o    Juízes
o    1 Samuel e 2 Samuel
o    1 Reis e 2 Reis
·   Posteriores (4)
o    Isaías
o    Jeremias
o    Ezequiel
o    Os 12 Profetas
§  Oséias
§  Naum
§  Joel
§  Habacuque
§  Amós
§  Sofonias
§  Obadias
§  Ageu
§  Jonas
§  Miquéias
§  Zacarias
§  Malaquias

Kethuvim (כתובים)

Escritos (11)

·   Livros da Verdade (Poéticos)
o    Salmos
o    Provérbios
o   
·   Os 5 Rolos
o    Cantares
o    Rute
o    Lamentações
o    Eclesiastes
o    Ester
·   Profético
o    Daniel
·   O Resto dos Escritos
o    Esdras-Neemias
o    Crônicas

         Na divisão do PT repercutem, pois, as fases de sua formação. Os livros existentes foram agrupados numa fase posterior, como se pode ver a seguir: [47]

1.            O Pentateuco – foi se constituindo no decorrer de séculos, assumiu a sua forma atual no Séc. V ou, o mais tardar, no Séc. IV a.C. Os samaritanos, que se separaram paulatinamente da comunidade de Jerusalém – em definitivo decerto somente na era helenística – reconheciam e mantinham apenas a Torá, portanto os cinco livros de Moisés, como autoridade. Também já se dispunha há muito do Pentateuco quando da tradução grega que surgiu no Egito a partir do Séc. III a.C.


2.            Os Livros Proféticos – Agregam-se por volta do Séc. III a.C. como grandeza própria. Parecia que a era do profetismo tinha chegado ao seu final (cf. Zc 13.2ss) e que se iniciava o tempo da interpretação. Ao redor de 190 a.C. O livro de Dn surgiu somente por volta de 165 a.C., portanto, foi agregado depois.

3.            O grupo dos Escritos – É delimitado definitivamente apenas na época neotestamentária, quando o PT como um todo e com a atual extensão dos textos é canonizado, isto é, reconhecido como inspirado e com isto válido para a fé e a vida da comunidade. A inserção de Crônicas ou do livro de Daniel só nesta terceira parte do cânone deve-se provavelmente ao surgimento relativamente tardio destas obras, visto que não encontraram espaço nas coleções mais antigas, já concluídas.

         A extensão de todo o PT provavelmente só se determinou em definitivo em fins do Séc. I d.C. Talvez no assim chamado Sínodo de Jabne-Jâmnia, quando a comunidade judaica tornou a se consolidar após a destruição de Jerusalém e do templo (70 d.C.).

3.2.  Épocas da história de Israel
         O Primeiro Testamento se formou dentro da história e se refere na maioria de seus enunciados, à história. Todavia, sua exposição constitui um testemunho de fé que não conserva a tradição em sua configuração original, “historicamente pura”, mas a relaciona com o respectivo momento histórico, modificando-a com isso ao mesmo tempo.[48]
         Compete ao historiador desentranhar a história de Israel de forma crítica do PT. Esta construção se baseia num processo metodológico triplo:
        
1.     Uma análise das fontes, inclusive da tradição oral nelas contida;
2.     Identificação e avaliação de material comparativo extra-bíblico do Antigo Oriente;
3.     Inferências sobre acontecimentos históricos, com especial cautela.

         Tradições fixadas por escrito aparecem, em Israel, de forma mais ampla somente a partir da época da monarquia; lembranças de épocas anteriores eram transmitidas oralmente, muitas vezes em forma de sagas.[49] A localização das fontes, mas também a diversidade da metodologia aplicada faz com que, sobretudo no âmbito da pré-história e da história dos primórdios de Israel, muitas vezes se alcancem apenas resultados controvertidos. Israel só se configura como grandeza coesa, sujeita a inferências históricas, depois da imigração em Canaã; sua auto-compreensão, porém, se baseia em tradições dos tempos anteriores ao assentamento.
         Pode-se dividir a história de Israel a grosso modo em cinco ou seis períodos,[50] sendo possível, por exemplo, fundir a 4a e a 5a fase em una única:

I.                   Pré-história nômade .............................................................. Séculos XV(?)-XII
II.                Época pré-estatal ................................................................... Séculos XII-XI
III.             Época da monarquia .............................................................. ca. De 1000-587
IV.             Exílio ....................................................................................587-539
V.                Época pós-exílica .................................................................. a partir de 539
VI.             Era do helenismo .................................................................. a partir de 333

3.3.  Elementos da história da sociedade
         Para se compreender tradições veterotestamentárias às vezes é importante ter certas noções básicas de seu pano de fundo social. Pergunta-se: como será que era a vida dos patriarcas, ou de que situações partiam os profetas em suas críticas sociais? Todavia, as afirmações bíblicas pressupõem mais a respectiva situação social do que a apresentam, pois não têm interesse imediato nela. O interesse é, antes de tudo, da história de Deus com Israel. Uma situação que é conhecida por todos não precisa ser mencionada ou anotada explicitamente.[51]
         A seguir vem a estrutura social que deve ser deduzida, em geral penosamente, de informações indiretas as mais variadas e aqui e acolá, de possíveis comparações. O apanhado geral que se segue, ordenado conforme as épocas da história de Israel só pretendem esboçar alguns aspectos.

·         Os clãs nômades – Os antepassados de Israel viviam em tendas ou num acampamento comum e migravam de um lugar para o outro (Gn 13.3; 18.1ss; 31.25,33ss; cf. 32.2 e outras). Assim, “armar” a tenda significa permanecer num lugar (12.8; 26.15; 33.19); ao contrário de “arrancar” as estacas da tenda que significa “partir”, “prosseguir viagem” (12.9; 33.12).

·         A posse da terra – A terra passou a ter uma importância para aqueles que foram nômades. Com a sedentarização, os nômades se transformaram em agricultores e aldeães. Mesmo que todo um clã se assente num único lugar, ou vários clãs em conjunto fundem um lugarejo, gradativamente a vizinhança começa a predominar sobre os laços de parentesco. A propriedade rural passa a constituir a base existencial do clã ou da família e assegura ao mesmo tempo a posição social do homem livre (cf. Mq 2.2). A herança cabia preferencialmente ao primogênito (Dt 21.17). Mas, o pai podia atribuir esse direito em tempos antigos também a outro filho (Gn 48; cf. 49.3ss; 25.1ss).[52]

·         Transformações ocorridas com a instalação da monarquia – A monarquia trouxe consigo uma transformação lenta e gradual, mas profunda, no desenvolvimento social e econômico, tanto pelas influências diretas quanto por suas consequências indiretas, qual seja, a incorporação das cidades cananéias em Israel e a crescente influência estrangeira. A monarquia criou uma administração que ultrapassava a estrutura tribal e abarcava o povo todo. Houve a necessidade de se contratar funcionários, formar exército e aumentar o patrimônio da coroa real. Durante a monarquia não se configurou uma situação uniforme. Certas diferenças existiam, contrastes entre a cidade e o campo, por exemplo.

·         Contrastes sociais no tempo dos grandes profetas- Surgiram com o passar do tempo, certos contrastes sociais e oposições entre ricos e pobres. Em face a isto, foram estabelecidas certas garantias sociais e normas jurídicas que tentavam manter a igualdade sócio-econômica dos membros do povo de Deus.[53] Entretanto, as medidas estabelecidas não bastavam para enfrentar as novas contingências criadas pela monarquia e a progressiva urbanização. A monarquia fez com que o poder se concentrasse em locais centrais, principalmente nas capitais (Jerusalém e Samaria). Desde o reinado davídico-salomônico a população urbana originalmente não-israelita havia sido incorporada ao Estado, de modo que pelo menos a partir de então tradições nômades e autóctones se mesclaram também na estrutura social.

·         A situação pós-exílica – Com a conquista de Jerusalém e o início do exílio, a organização política e estatal de Israel acabou. O que se manteve ou ressurgiu tinha uma estrutura mais familial: por um lado, a “casa paterna”, uma espécie de grande família (Ed 1.5; 2.59s, 68; 4.2s; 10.16 e outras), por outro lado, a instituição dos “anciãos”, que recuperou sua importância há muito perdida (Jr 29.1; Ez 8.1; 14.1; 20.1ss; Ed 5.9; 6.7; 10.8,14 e outras). A administração de Israel estava nas mãos de funcionários persas (Ne 2.7s., 16; 5.7,14s; Dn 3.2s.). Israel formava uma comunidade que se agregava ao redor do segundo templo, vivia segundo a lei e gozava de autonomia cúltico-religiosa. Era liderado pelo sumo sacerdote, que até havia adotado emblemas reais. Jerusalém era o centro cúltico também para as comunidades filiais da diáspora, espelhadas por todo o mundo. Israel passou a cindir-se em diversos grupos na época do Novo Testamento: fariseus, saduceus, essênios e outros.[54]



                                                                                                                                                          


Épocas principais da história de Israel
I.     Pré-história
      nômade
 
II.   Época
       pré-estatal


     Ameaça dos
     Filisteus

III. Época da
      Monarquia
      Época do Reino
      Unido

 IV. Época dos
       Reinos
       Separados:
·   Reino do
           Norte (Israel)
           e Reino do Sul
           (Judá)
- Assédio dos arameus (esp. 850-800)
·  Hegemonia assíria (Ca. de 750-630)




 V.  Época de Judá

·   Hegemonia babilônica (a partir de 605)

VI. Exílio










VII. Época pós-exílica



-   Hegemonia persa (539-333)

Era helenística





·       Sécs XV
         (?) – XIII

·       Sécs. XII-XI








·       Ca. de 1000


·       926










·    ca. de 733

·    732
·    722


·    701

·    ca. de 622

·    597

·    587










·     539


·     520-515


·     333

·     164

·     64
·     Promessas aos patriarcas
·     Libertação do Egito
·     Revelação no Sinai
·     Tomada da Terra
·     Época da consolidação
     e expansão
·     Época dos Juízes
·     Guerras de Javé
·     Confederação tribal:
     ANFICTIONIA


·     Saul
·     Davi (capital Jerusalém)
·     Salomão (construção do templo)
·     Assim chamada divisão do
     Reino (primeira data certa da história de Israel; 1 Rs 12)








·         Guerra Siro-Efraimita contra Judá (2 Rs 16.5; Is 7)
·         Perdas territoriais de Israel (2 Rs 15.29) e Conquista da Samaria pelos assírios (2 Rs 17).

·         Cerco de Jerusalém pelos assírios (2 Rs 18-20 = Is 36-39; 1.4-8)
·         Reforma de Josias (2 Rs 22 ss; Deuteronômio
·         Primeira destruição e, dez anos mais tarde,
·         Destruição definitiva de Jerusalém pelos babilônios (2 Rs 24s; Jr 27 ss.









·       Queda da Babilônia nas mãos dos persas (Is 46s. e outras)

·       Reconstrução do templo (Ed 5s.)


·       Alexandre Magno (vitória em Isso sobre os persas)
·       Nova consagração do templo durante o levante dos macabeus
·       Conquista da Palestina pelos romanos
















·         Javista (?)





·         Elias, Eliseu, Eloísta?
·         Amós (Ca. de 760)
·         Oséias (Ca. de    750-725)
·         Isaías (Ca. 740-700)





·      Jeremias (Ca. de 626-586)

·      Ezequiel

·      Lamentações
·      Obra    Historiográfica Deuteronomística (Dt – 2 Rs) (Ca. de 560)
·      Escrito Sacerdotal
·      Dêutero-Isaías




·      Ageu, Zacarias


·      Obra Historiográfica Cronista
·      Livro de Daniel

IV – OS LIVROS DA TORÁ – PENTATEUCO
         A Torá ou Pentateuco é o bloco mais volumoso da bíblia, quase tão volumoso quanto o Novo Testamento.[55] Constitui o documento-base tanto do Tanak quanto do Primeiro Testamento. Também a posição do evangelho de Mateus como primeiro no Novo Testamento deve ter relação com sua estrutura de Torá (cf. o Sermão da Montanha, Mt 5-7). Na verdade, o Pentateuco é, por um lado, uma constelação extraordinariamente complexa e por vezes perturbadora, o que tem relação com seu processo de surgimento em múltiplas camadas. Por outro lado, no entanto, não é mero resultado de um processo de coleta acidental, mas permite constatar, em sua forma final, uma composição planejada, cujo objetivo é ser lida como um programa teológico.
         O judaísmo emprega as designações “a Torá” (cf. Js 1.7; etc.), “a Torá de Moisés” (cf. Ml 3.22; Ed 7.6; etc.) ou “livro da Torá de Moisés” (cf. Js 8.31; Ne 8.1; etc.), enfatiza a totalidade quanto ao seu conteúdo, o termo “Pentateuco”, oriundo do grego (h pentateuxos Biblos; “ o livro em cinco partes”) traz mais fortemente à mente a sua estruturação formal.

4.1. O perfil próprio dos cinco livros
         O Pentateuco era comprido demais para caber num único rolo de livros da Antiguidade. A subdivisão em cinco rolos, porém, não se processou segundo aspectos de técnica livresca, e sim de conteúdo.
         Os livros se intitulam pelas palavras iniciais hebraicas, conforme segue:


[1] Cf. CAIRNS, E. E. O cristianismo através dos séculos. Uma história da Igreja Cristã. São Paulo: Vida Nova, 1984, pp. 31-34.
[2] Cf. CAIRNS, E. E. O cristianismo através dos séculos, pp. 29-31.
[3] Cf. CAIRNS, E. E. O cristianismo através dos séculos, pp. 34-36.
[4] Cf. ALONSO-SCHÖKEL, L. O Antigo Testamento como palavra do homem e Palavra de Deus. In: SCHREINER, J. Palavra e Mensagem do Antigo Testamento. São Paulo: Teológica, 2004, p. 19. A tradição cristã do AT como “palavra de Deus”. A expressão é genérica; trata-se na realidade de uma multiplicidade de “palavras”. O testemunho cristão foi preparado pela experiência continuada do povo eleito e pela reflexão de alguns escritores.
[5] Cf. A contribuição de SOARES, E. Visão Panorâmica do Antigo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003. 224p.
[6] SELLIN, E. e FOHRER, G. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Paulinas, 1977, pp. 2-3.
[7] Expressão utilizada por  SELLIN, E. e FOHRER, G. Introdução ao Antigo Testamento, p. 3.
[8] Cf. ALONSO-SCHÖKEL, L. O Antigo Testamento como palavra do homem e Palavra de Deus. In: SCHREINER, J. Palavra e Mensagem do Antigo Testamento, pp. 19-23.
[9] SELLIN, E. e FOHRER, G. Introdução ao Antigo Testamento, p. 4.
[10] Esta é a proposta de ZENGER, E., A Sagrada Escritura de judeus e cristãos, In: Introdução ao Antigo Testamento, São Paulo: Loyola, 2003, pp. 16-43.
[11] Cf. ZENGER, E., Introdução ao Antigo Testamento, p. 17. Um armador naval oriundo da Ásia Menor. Ele tinha grande influência na Igreja de Roma, por ser um “benfeitor” financeiramente poderoso, até que em 144 d.C., se deu a ruptura. Depois, organizou uma igreja própria, que reuniu muitos adeptos e sobreviveu até o Séc. VI. Marcião era um gnóstico cristão que não queria nem podia relacionar o pecado e o mal no mundo real com o Deus redentor e perfeito, anunciado por Jesus. Para ele a Criação era obra de um Deus maligno, demiurgo, apresentado na Bíblia judaica. Segundo Marcião, o Pai de Jesus não tinha nada em comum com o Deus judaico do juízo e da guerra. Marcião foi coerente: não se limitou a rejeitar a Bíblia judaica como “Escritura Sagrada”, na luta pela mensagem “pura” de Cristo; rejeitou também os escritos “neotestamentários” em que predominava flagrantemente a tradição judaica. O resultado foi um cânon pequeno, de duas partes, constituído das dez cartas de Paulo (obviamente “desjudaizadas” por ele): Gl, 1 Co, Rm, 1Ts, 2Ts, Ef, Cl, Fl, Fm, e do evangelho de Lucas (o único evangelho). Com referência a Marcião, a pesquisa designa de marcionismo todas as tendências que visam rejeitar ou diminuir a importância da Bíblia judaica, isto é do Antigo Testamento.
[12] ZENGER, E., Introdução ao Antigo Testamento, p. 19.
[13] Essa é a postura de ZENGER, E., Introdução ao Antigo Testamento, p. 19.
[14] Segue a proposição abalizada de ZENGER, E., Introdução ao Antigo Testamento, pp. 19-21.
[15] Cf. A estrutura do Tanak é apresentada por ZENGER, E., Introdução ao Antigo Testamento, p. 29.
[16] A BÍBLIA DE ESTUDO ALMEIDA, Barueri-SP: SBB, 1999, p. 1 (parte introdutória).
[17] AT, abreviatura para referência ao Antigo Testamento, que a partir desta parte, será utilizada neste estudo.
[18] SELLIN, E. e FOHRER, G. Introdução ao Antigo Testamento, pp. 4-5.
[19] SELLIN, E. e FOHRER, G. Introdução ao Antigo Testamento, pp. 5-6.
[20] Segue uma lista de nomes de expoentes, em relação ao estudo propedêutico do AT, segundo SELLIN, E. e FOHRER, G. Introdução ao Antigo Testamento, p. 5 ss.
[21] SELLIN, E. e FOHRER, G. Introdução ao Antigo Testamento, pp. 5-6.
[22] SELLIN, E. e FOHRER, G. Introdução ao Antigo Testamento, pp. 6-8.
[23] SELLIN, E. e FOHRER, G. Introdução ao Antigo Testamento, pp. 7-8.
[24] SELLIN, E. e FOHRER, G. Introdução ao Antigo Testamento, pp. 8-14.
[25] Sobre a história das tradições, Cf. VON RAD, G. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Aste, Vol. I, 1986, pp. 25-33.
[26] SCHMIDT, Werner H. Introdução ao Antigo Testamento. Trad.: Annemarie Höhn. São Leopoldo, RS: Escola Superior de Teologia e Sinodal, 2004. 395p. (pp. 12-16).
[27] Sobe esse assunto com mais detalhes, cf. ZENGER, E., A Sagrada Escritura de judeus e cristãos. In: Introdução ao Antigo Testamento, São Paulo: Loyola, 2003, pp. 16-43.
[28] ZENGER, E., A Sagrada Escritura de judeus e cristãos. In: Introdução ao Antigo Testamento, São Paulo: Loyola, 2003, pp. 25 ss.
[29] ZENGER, E., A Sagrada Escritura de judeus e cristãos. In: Introdução ao Antigo Testamento, São Paulo: Loyola, 2003, pp. 25 ss.
[30] ZENGER, E., A Sagrada Escritura de judeus e cristãos. In: Introdução ao Antigo Testamento, São Paulo: Loyola, 2003, p. 25.
[31] ZENGER, E., A Sagrada Escritura de judeus e cristãos. In: Introdução ao Antigo Testamento, São Paulo: Loyola, 2003, p. 26 ss.
[32] NT – Novo Testamento. Essa abreviatura será utilizada a partir dessa parte.
[33] ZENGER, E., A Sagrada Escritura de judeus e cristãos. In: Introdução ao Antigo Testamento, São Paulo: Loyola, 2003, p. 26.
[34] ZENGER, E., A Sagrada Escritura de judeus e cristãos. In: Introdução ao Antigo Testamento, São Paulo: Loyola, 2003, p. 27.
[35] Esta é a sugestão de ZENGER, E., p, 28, no sentido de haver uma reflexão entre a Igreja e o Judaísmo.
[36] ZENGER, E., A Sagrada Escritura de judeus e cristãos. In: Introdução ao Antigo Testamento, São Paulo: Loyola, 2003, pp. 36-38.
[37] RITTER, A. M., Kanonbildung, p. 280. In: ZENGER, E., A Sagrada Escritura de judeus e cristãos. In: Introdução ao Antigo Testamento, São Paulo: Loyola, 2003, p. 36.
[38] HENGEL. M.; DEINES. R., Die Septuaginta, pp. 183ss. In: ZENGER, E., A Sagrada Escritura de judeus e cristãos. In: Introdução ao Antigo Testamento, São Paulo: Loyola, 2003, pp. 36-37. Não é mais sustentável a opinião defendida antigamente, de que a jovem Igreja, que se espalhava inicialmente no âmbito do judaísmo de fala grega, teria adotado o cânon bíblico mais amplo, surgido em Alexandria, centro do judaísmo helênico. “Não é possível comprovar a existência de uma coletânea de escritos genuinamente judaicos, pré-cristãos, em língua grega e com validade canônica, uma coletânea que fosse inequívoca e claramente delimitável – mesmo no bloco dos livros históricos e sapienciais –, e distinta do cânon hebraico por ser mais volumosa. Muito menos se pode demonstrar que tal ‘cânon’ tenha sido elaborado em Alexandria antes dos tempos cristãos. Somente podemos partir do fato de que os cinco livros da Torá de Moisés, o chamado Pentateuco, foram traduzidos para o grego sob Ptolomeu II Filadelfo (282-246 a.C.) o mais tardar na metade do séc. III a.C. Essa foi uma obra de tradução ímpar na Antiguidade, atribuída de forma lendária pela carta peseudepígrafa de Aristéias, no fim do séc. II d.C., a 72 anciãos da terra-mãe Palestina. É dela que vem a designação posterior oi ebdomhconta, Septuaginta, para todo o Antigo Testamento grego, designação comprovada primeiramente em autores cristãos e ela mesma questionável. Pois o empreendimento narrado na lenda restringia-se unicamente à tradição do Pentateuco enquanto lei judaica. Apenas paulatinamente seguiu-se a tradução dos livros históricos e proféticos, bem como dos hagiógrafos, num processo que se estendeu por mais de trezentos anos  até o final do séc. I d.C. Ademais, alguns poucos escritos da Septuaginta nem sequer são traduções, mas foram desde logo redigidos em grego. Analisando-se os restos da obra literária autônoma do judaísmo alexandrino, temos antes a impressão de que o número de ‘escritos sagrados’ reconhecidos na metrópole egípcia foi consideravelmente menor que  o ‘cânon hebraico’ de origem que surgia na Palestina, e (sobretudo) bem menos que a posterior LXX da Igreja”. Com essa constatação também cai por terra a tese de que o cânon fariseu-rabínico do Tanak teria surgido como reação contra a adoção do “grande” cânon helenista pelo cristianismo primitivo.
[39] Para a formulação desse conteúdo, cf. SCHMIDT, W. H. Introdução ao Antigo Testamento. São Leopoldo, RS: Sinodal e EST, 20043. 395p.
[40] Cf. SCHMIDT, W. H. Introdução ao Antigo Testamento, p. 12 ss. Esse autor não utiliza a expressão Primeiro Testamento. Mas, a sua reflexão é importante, uma vez que, a sua pesquisa está bem dimensionada.
[41] A partir desta seção será utilizada a sigla PT para Primeiro Testamento.
[42] A partir desta seção será utilizada a sigla ST para Segundo Testamento.
[43] Estas são contribuições riquíssimas de SCHMIDT, W. H. Introdução ao Antigo Testamento, p. 12 ss.
[44] Cf. SCHMIDT, W. H. Introdução ao Antigo Testamento, p. 13 ss.
[45] A este respeito, v. "Dicionário da Bíblia" art. cit., e Swete, "Uma Introdução ao Antigo Testamento em Grego".
[46] ZENGER, E. A Sagrada Escritura de judeus e cristãos. In: Introdução ao Antigo Testamento, São Paulo: Loyola, 2003, p 36 ss.
[47] Cf. SCHMIDT, W. H. Introdução ao Antigo Testamento, pp. 14-16.
[48] Cf. SCHMIDT, W. H. Introdução ao Antigo Testamento, p. 17.
[49] De raiz germânica – “sagen” – do inglês “to say” – dizer; pelo francês “saga”. Designação comum às narrativas em prosa, históricas ou lendárias, nórdicas, redigidas, sobretudo na Islândia, nos séculos XII e XIV; canção heróica ou lendária. História ou narrativa rica de incidentes (FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa).
[50] Cf. SCHMIDT, W. H. Introdução ao Antigo Testamento, p. 17ss. O autor apresenta um quadro demonstrativo desses períodos (p. 18), no sentido de se perceber uma panorâmica com seus detalhes fundamentais.
[51] Cf. As grandes contribuições de SCHMIDT, W. H. Introdução ao Antigo Testamento, pp. 35-44.
[52] Cf. As grandes contribuições de SCHMIDT, W. H. Introdução ao Antigo Testamento, pp. 35-44.
[53] Cf. A relação elaborada por SCHMIDT, W. H. Introdução ao Antigo Testamento, p. 42.
[54] Cf. SCHMIDT, W. H. Introdução ao Antigo Testamento, p. 44.
[55] ZENGER, E. Os livros da Torá/do Pentateuco. In: Introdução ao Antigo Testamento, São Paulo: Loyola, 2003, p 46 ss.
Bere’sit
“no início”
Semot
“nomes”
Wayyqra’
“Ele chamou”
Bemidbar
“No deserto”
Debarim
“Palavras”
Genesis
Gênesis
“Origem”
Exodos
Exodus
“Saída”
Leuiticon
Leviticus
“O livro da
Lei levítica/
sacerdotal”
Arijmoi
Numeri
“Números/
Recenseamentos”
Deuteronomion
Deuteronomium
“A segunda lei/
A segunda
edição da lei”


         Cada um desses cinco livros, cujo início e final sempre são literariamente caracterizados com clareza, possui seu perfil próprio em termos de acontecimentos e teologia.[1]
        
         1. Gênesis.  A palavra Gênesis quer dizer origem. O livro trata então das origens: do universo, do homem, da mulher, do bem, do mal, do Povo de Deus. Não é um escrito científico, histórico, como alguns pensam, mas é um escrito religioso, teológico. Quem quiser procurar ciência nas narrativas de Gênesis vai ficar decepcionado pelas contradições. Quem conhecer a ótica teológica pela qual o livro foi escrito e pela qual deve ser lido, não terá nenhuma dificuldade em entender sua extraordinária mensagem. O livro divide-se em dois blocos: do capítulo 1 ao 11  e do 12 ao 50. No primeiro bloco o autor fala da história das origens (universo, homem, mulher, pecado, sociedade...); no segundo bloco narra a história dos Patriarcas, a história do Povo de Deus.

         2. O Êxodo. A palavra Êxodo quer dizer saída. O livro narra a saída do Povo hebreu do Egito para a terra Prometida (Palestina). A narração da história vai do capítulo 1 ao 20. Os capítulos seguintes foram acrescentados depois que o povo já estava assentado na Terra Prometida (é uma parte mais legislativa, litúrgica e social).

         3. O Levítico. Essa palavra significa “referente a Levi; de Levi”. O livro trata da liturgia, do Templo, dos sacrifícios, dos ritos e da vida religiosa do povo. É um livro essencialmente ritualista e litúrgico, embora mostre que as leis litúrgicas existem para que o Povo não se esqueça de cultuar Javé, o Deus único, verdadeiro e libertador, que o tirou da escravidão do Egito. É a tônica do livro.  O culto deve ter sempre um caráter de libertação. O nome “Levítico” provém de Levi, um dos filhos de Jacó, (Gn 29.34 e 35.23). Na distribuição das terras para as tribos, quando o Povo saindo do Egito chegou à Terra Prometida, a tribo de Levi não recebeu parte alguma.  O motivo foi que essa tribo fora escolhida para exercer as funções sacerdotais (Nm 3.11-12; Dt 18; 33.8-11). Essa tribo, não recebendo terras, recebia os dízimos para se manter. Não podiam os levitas preocupar-se com heranças e terras porque eles eram sacerdotes do Senhor, como diz o Deuteronômio: “Você não receberá nenhuma herança, nem parte na terra. Para você, eu sou a sua parte e sua herança no meio dos filhos de Israel” (Dt 18.20). Por isso o Levítico é um livro que trata de tudo o que se refere ao sacerdócio e ao culto.

         4. O livro de Números.  O nome do livro provém do tema tratado por ele nos primeiros capítulos: recenseamentos, números de pessoas para guerras, clãs etc. O livro faz uma revisão da caminhada pelo deserto e retoma a história deixada pelo livro do Êxodo. O livro do Êxodo, como se disse, narra a história da “saída” até o capítulo 20, quando Deus entrega a Lei (10 Mandamentos) a Moisés no Monte Sinai. Para aí. O livro de Números retoma a narrativa a partir daqui, do Monte Sinai, e narra toda a história do Povo até a chegada às portas da Terra Prometida. Todavia o livro não narra apenas o resto da história da caminhada. Trata também de temas religiosos e teológicos como a festa da Páscoa (cap. 9), crises na caminhada (11-14), eleição do sacerdócio de Aarão (17), combate à idolatria. Salienta muito a Comunidade como povo que caminha inserida na história, e o deserto como lugar da crise e da opção.

         5. O Deuteronômio. É o último livro do Pentateuco. Literalmente Deuteronômio significa segunda lei. Mas não é uma segunda Lei, pois Deus não deu uma segunda lei, mas somente uma a do Monte Sinai, os 10 Mandamentos. O Deuteronômio é mais uma atualização da Lei de Deus para o Povo já assentado. É uma interpretação da Lei, uma readaptação da Lei. O nome foi dado erroneamente ao livro por causa da tradução errônea do texto do próprio livro, capítulo 17.18, onde é dito “mandará escrever num livro uma cópia dessa lei...”.  A palavra “cópia” foi traduzida por “segunda”, com a intenção de dizer que era uma atualização. Mas o nome ficou. O livro é atribuído a Moisés como os outros, mas não foi ele quem escreveu, pois o livro é bem posterior, e inclusive narra a morte do próprio Moisés (34).  Importante no livro é a repetição dos 10 Mandamentos (5); o belo capítulo 6 (“Ouve, Israel”- shemá Israel) onde é ensinado que a vida é o grande dom de Deus e deve ser um constante ato de amor a ele e ao próximo.  Fundamental no livro é o conjunto dos cap. 12 ao 26. É chamado “Código deuteronômico”; trata da vida da Comunidade, do relacionamento com o próximo, com Deus, com a Comunidade. O cap. 26 traz o importante “Credo histórico” do Povo de Israel, isto é, sua profissão de fé.



[1] Cf. Ibid. p 46ss.
Conteúdo específico geral de cada livro
LIVRO
CAPÍTULO
TEMAS

GÊNESIS
1 a11
História das origens
12 a 25.18
História de Abraão
25.19 a 50
História de Jacó e José





ÊXODO
1 a 6
História de uma libertação. Javé na História e na vida do povo
7 a 11
Pragas
12 a 18
A libertação (o sinal: a Páscoa)
19 a 20.21
Os dez mandamentos (Decálogo)
20.22 a 23.33
Trazem o chamado Código da Aliança. São acréscimos, ou enxertos posteriores.
24.11
Conclusão da Aliança.
24.12 a 25.40
Não trata mais do êxodo; são acréscimos também posteriores, quando o povo já estava assentado na Terra prometida.
26 a 31
Acréscimos posteriores
32 a 34
Textos originais – bezerro de ouro...
35 a 40
Acréscimos posteriores





LEVÍTICO
1 a 3
Normas sobre os holocaustos, oblações e sacrifícios pacíficos.
4 a 10
Ritos de consagração
11 a 15
Normas sobre pureza e impureza legais (= Marcos 7.1-23)
16
Dia de penitência – Yom Kippur
17 a 26
·   Leis da santidade
·   24.17-22 - A lei do talião (= Mateus 5.38-42)
·   25 - O jubileu
27
Apêndice

NÚMEROS


NÚMEROS

1,1 a 10.10
Conflitos na organização do povo
10.11 a 21
Continuação da história narrada pelo Êxodo até o capítulo 21.
21 a 26
O Povo diante da terra prometida
27 a 36
Acréscimos posteriores


DEUTERONÔMIO
1 a 11
Capítulos introdutórios (discursos). (O capítulo 6: shemá = o centro do relacionamento com Deus é o amor. É preciso ouvi-lo).
12 a 26
Centro do livro. É o código deuteronômico
27 a 30
Bênçãos e maldições
31 a 34
Apêndice - Capítulos conclusivos.


         A riqueza inconteste do Pentateuco, sob o ponto de vista histórico e religioso, vem encantando os espíritos através dos tempos. A história da salvação, mediante o plano redentor de Deus, é o ponto alto destes cinco primeiros livros da Bíblia.
         O pacto do Criador com o homem por Ele amado e guiado, aponta o destino sublime do ser racional, abençoado e agraciado por Javé. Como ressaltam os biblistas, a aliança estava baseada na iniciativa de Deus, que agia com misericórdia e em plena soberania.
         Foi o Ser Supremo quem prometeu que não puniria mais a humanidade com outro dilúvio (Gn 9.11); foi ele quem elegeu Abraão e seus descendentes e fez deles o instrumento da sua misericórdia para um mundo decaído; foi ele quem cimentou esta eleição, prometendo-se a si mesmo ao povo israelita: “Tomar-vos-ei por meu povo, e serei o vosso Deus” (Ex 6.7) A lei mosaica e Iahweh, para o qual se convergem todos os preceitos, chamavam o povo eleito para a santidade.
         O culto divino mostra a grandeza de Deus a quem se devem oferecer sacrifícios, louvores de criaturas a seu Senhor Onipotente.
         As proibições da idolatria, de outras práticas supersticiosas e dos sacrifícios humanos, revelam a superioridade do culto dos hebreus.
         Admirável a ética do Pentateuco condenando a prostituição (Dt 23.17); a sodomia e a bestialidade (Lv 28.22-23); o homicídio (Ex 20.13; Dt 5.17). A justiça fulge nestes livros que velam pelo direito de propriedade (Ex 20.15; Lv 19.11; Dt 5.19) e impõem a restituição (Lv 6.5). Pune a mentira, a fraude, o falso testemunho (Ex 20.16; Lv 19.11-12); o adultério (Ex 20.14). O amor ao próximo palpita em inúmeras passagens, sentimento humanitário, sobretudo para com os pobres.
         A nobreza da vida familiar é digna de nota: fidelidade conjugal (Dt 22.22); respeito dos filhos para com os pais (Ex 20.12; Lv 19.3; Dt 5.16). Sem poder liquidar com a indesejável escravidão, Moisés a suavizou ao máximo, sendo a condição dos escravos entre os hebreus muito superior ao que acontecia, ingloriamente, entre os gregos e romanos que os consideravam como coisas e não seres criados à imagem e semelhança de Deus.
         Estas considerações sobre a lei mosaica patenteiam a sublimidade do Pentateuco, que propõe a Israel o seu ideal supremo.
         Característica desta parte inicial da Bíblia é o entrelaçamento entre a narrativa e a lei divina, promulgada pelo Criador.
         O estudo de cada um dos cinco livros impregna de religiosidade o espírito, alimenta a fé em Deus, firma a esperança, fomenta o amor ao Criador e ao semelhante, revela as piores de todas as posturas humanas que são a infidelidade e a ingratidão.
         É impossível, de fato, ler o Pentateuco e não sentir horror à insinceridade perante Deus.
         Este propõe ao homem uma aliança, mediante a qual, guia o ser racional às paragens beatificantes da terra prometida, após o ter disposto, na trajetória pelo deserto da vida, às ascensões da beatitude que brotam lá dentro do coração humano como propostas a serem viabilizadas.

         a) O Pentateuco pode ser lido primeiramente como biografia de Moisés: De Ex a Dt, Moisés é o ator principal (Ex 2: nascimento; Dt 34: falecimento). O cap. 34.10-12 constitui praticamente seu epitáfio (inscrição tumular). Gn representa, então, a história de seus antepassados em sentido amplo (cf. Ex 6.14-25). É a partir desse enfoque que o Pentateuco também é designado “(livro da) Torá de Moises”.
         b) No nível narrativo, o Pentateuco também pode ser lido como o caminho dramático de Israel para a terra da promessa, que começa com o chamado de Abraão dentre as nações e termina com um “final aberto” nessa terra. O Pentateuco retrata esse caminho cheio de sofrimento e conflito como biografia dramática de Israel:



[1] ZENGER, E. Os livros da Torá/do Pentateuco. In: Introdução ao Antigo Testamento, São Paulo: Loyola, 2003, p 48 ss.
Gênesis
Êxodo
Levítico
Números
Deuteronômio
Criação e promessa da terra
Do Egito pelo deserto ao Sinai
NO SINAI
Do Sinai pelo deserto a Moabe (à divisa da terra prometida)
Instruções para a vida na terra da promessa


         c) Os cinco livros estão agrupados, em forma de quiasmo[1] espelhado, em torno do livro do Levítico como centro teológico. O Gênesis e o Deuteronômio formam a moldura externa. Êxodo e Números perfazem a moldura interna. Eles se estruturam paralelamente por meio de numerosas histórias iguais. O Sinai constitui quase que um tipo de divisor de águas (antes do Sinai era “legítimo” clamar por pão e água, depois do Sinai isso leva ao pecado). No centro da composição situa-se a constituição de Israel como povo santo, em cujo meio o santo Javé quer tornar-se presente e agir. É por isso que se encontra no meio do livro do Levítico – por sua vez também construído concretamente – a mensagem de Javé como o Deus disposto à reconciliação.

4.3. O Pentateuco como história e lei [2]
         O Pentateuco possui uma estrutura dialética de história e lei. A “lei” brota sempre a partir da “história” e ao mesmo tempo visa proteger e manter aberta a dinâmica da “história”. De forma paradigmática podemos depreender essa imbricação dinamizadora de “história” e “lei” (do agir e da vontade de Deus) da estrutura dos Dez Mandamentos bíblicos (Ex 20.2-17||Dt 5.6-21).

4.4. O contexto histórico da redação constitutiva [3]
         É consenso amplamente predominante na pesquisa que a composição final do Pentateuco, não pode ser mero produto do acaso, mas remonta a um trabalho literário planejado. Obviamente se pode descrever apenas de forma aproximada quando, como e por meio de quem essa composição final foi realizada.
         No atual estado da pesquisa, talvez seja mais convincente a ideia de que a etapa decisiva está ligada à figura de Esdras, “comissário imperial” persa e “sacerdote” judeu, que por volta de 400 a.C. promulgou em Jerusalém um código de leis, aprovado pelos persas, e que constitui o documento básico da identidade judaica (“autorização imperial”).
         A conclusão de que o Pentateuco foi formado somente em tempos pós-exíllicos é tirada da história do surgimento das partes constitutivas nele integradas (a obra pré-sacerdotal, a obra literária sacerdotal, o Deuteronômio), cujo desenvolvimento transcorreu até essa época.
         Há, sobretudo, cinco razões que nos levam a afirmar que o Pentateuco recebeu aspectos essenciais, sua forma atual por volta de 400 a.C.:

1.      No Pentateuco não se podem verificar influências do helenismo ou vestígios da discussão com ele.
2.      A separação cultual-religiosa dos samaritanos do vínculo com Jerusalém geralmente é datada (embora não sem controvérsias) no tempo um pouco anterior à presença (“fundadora” do helenismo) de Alexandre Magno nessa região (após 330 a.C.). “Considerando, porém, que nessa separação os samaritanos assumem o Pentateuco como Sagrada Escritura de sua comunidade cultual, a formação do Pentateuco como grandeza própria com posição determinante e norteadora deve ter acontecido no tempo dos persas, quando Samaria, por decisão persa, ainda estava ligada cultualmente a Jerusalém e não recebeu permissão por parte dos persas para ter seu santuário próprio”.
3.      A tradução da Torá para o grego, concluída o mais tardar em meados do Sec. III pressupõe que nesse ínterim a Torá obteve aceitação em todas as regiões, também na diáspora egípcia.
4.      Os livros de Esdras e Neemias têm como premissa normativa “a Torá de Moisés” (Ed 3.2; Ne 10.30; 13.1; Ne 10 comenta textos de Ex-Dt, pressupondo, portanto, o Pentateuco).
5.      Aceitando-se a hipótese de que a redação final do Dt, que deve ser datada por volta de 400 a.C., aconteceu em conexão com a inserção do Dt no Pentateuco, é provável que a conclusão do Pentateuco tenha acontecido no início do séc. IV a.C.
        
         Afirmações sobre a atuação de Esdras e a formação do Pentateuco/da Torá:

1.      A lei que Esdras promulga é lei judaica (“a lei do teu Deus”), autorizada pelo rei como lei imperial persa (“lei do rei”).
2.      A promulgação e o cumprimento dessa lei pelo “povo todo” de judeus na província transeufratense acontecem por interesse do império persa.
3.      A promulgação acontece no centro de culto da religião de Javé. “Lei” e “templo” são inseridos numa relação de condicionamentos recíprocos; o livro da Lei é um “livro sagrado”.
4.      De agora em diante, a identidade judaica é constituída pela relação com esse “livro sagrado”.
5.      Não se trata de uma lei até então desconhecida ou de uma lei que ainda teria de ser criada por Esdras, mas de uma obra já existente (“que está na tua mão”). Por isso também se deve admitir que a ação de Esdras não foi realizada como de alguém imposto de fora, praticamente como ato de poder da Golah [4] diante da terra-mãe, mas sim em consonância com os círculos influentes da administração própria dos judeus (colégio de sacerdotes e conselho de anciãos).
6.      O cumprimento da lei é definido como expressão de lealdade judaica diante do domínio persa. A desobediência é punida segundo o direito imperial persa.
7.      Não apenas constitui a base para decisões judiciais, mas também para o ensino.

         A tese mais plausível que é proposta: os diferentes agrupamentos judaicos reuniram no Pentateuco suas concepções divergentes e buscaram o reconhecimento desse acordo por parte do governo central persa, para assegurarem desse modo seu way of life judaico. A ação de Esdras constituiu a conclusão dos esforços judaicos de obter dos persas uma autonomia relativa. No entanto, é bem plausível que o chamado edito de Artaxerxes tenha passado a ser uma “carta de proteção” para o Pentateuco.

V – A OBRA HISTORIOGRÁFICA DEUTERONOMISTA[5]

VI – A OBRA HISTORIOGRÁFICA CRONISTA[6]

VII – O PROFETISMO - A FORMA DA PALAVRA PROFÉTICA [7]

  1. Amós e Oséias

  1. Isaías e Miquéias

  1. Naum, Habacuque, Sofonias e Obadias

  1. Jeremias e Ezequiel

  1. Dêutero-Isaías e Trito-Isaías

  1. Ageu, Zacarias, Dêutero-Zacarias e Malaquias

  1. Joel e Jonas

  1. Daniel

VIII – POESIA DO ÂMBITO DO CULTO E DA SABEDORIA[8]

  1. O Saltério

  1. Cantares [Cântico dos Cânticos], Lamentações, Rute e Ester

  1. A Sabedoria de Provérbios

  1. Eclesiastes [Cohélet], o Pregador

  1. O Livro de Jó

CONCLUSÃO
         O Antigo Testamento, ou como melhor se pode chamá-lo de Primeiro Testamento, por ser mais condizente com o seu conteúdo e com aquilo que faz referência o Novo Testamento ou Segundo Testamento, constitui-se uma grandeza histórico-teológica. Sem o Primeiro Testamento não haveria o Segundo Testamento; não haveria a base da fé no Deus criador e salvador.
         Há um nexo entre todos os livros, mesmo considerando a historicidade de cada um, incluindo várias épocas da história de Israel, em suas diversas fases. E muito mais, as incontestes narrativas de experiências vividas intensamente em relação à fé em Deus.
         O Primeiro Testamento não é velho, não se desgastou, pois continua revelando coisas novas, mesmo diante do conteúdo neotestamentário. O seu conteúdo tem influenciado a história ocidental e um pouco da oriental, uma vez que tal conteúdo visa à humanidade inteira. Deus se revelou em amor a todas as pessoas, e quer o bem de todos. Não há conteúdo que melhor exponha no passado, sobre Deus e cobre a criação, do que o do Primeiro Testamento. Através dele se pode conhecer Deus em linguagem humana.
         Quem tiver um contato com o Primeiro Testamento ainda que não pertença à Igreja ou à comunidade judaica, por exemplo, poderá perceber a grandeza que é em si mesmo o Primeiro Testamento, porque fala ao coração.



[1] Cf. DIAS DA SILVA, C. M. Metodologia de exegese bíblica. São Paulo: Paulinas, p 75.Quiasmo: forma de organizar um texto por assunto; normalmente a parte central é a parte enfatizada. Quando uma sequência de palavras, frases ou ideias reaparece em forma invertida (Is 6,10). Também perícopes podem estar agrupadas em formas quiástica (2 Sm 21,1-14[a]; 21,15-22[b]; 22[c]; 23,1-7[c’]; 23,8-39[b’]; 24[a’]. Por vezes, no centro do quiasmo, encontra-se um elemento isolado, sem outro correspondente (Is 53,4-5ª). A técnica do quiasmo pode servir para evidenciar a importância do(s) elementos (s) que está (ao) no  centro (Lc 4, 16c-20a). No entanto, há outro uso do quiasmo: assinalar a reversão da situação inicial. Neste caso, o que realmente importa não é o que está no centro, mas a mudança ocorrida.O elemento central é apenas o fator que provoca ou explica tal processo (Lc 11,8).
[2] ZENGER, E. Os livros da Torá/do Pentateuco. In: Introdução ao Antigo Testamento, São Paulo: Loyola, 2003, p 50 ss.
[3] ZENGER, E. Os livros da Torá/do Pentateuco. In: Introdução ao Antigo Testamento, São Paulo: Loyola, 2003, p 51 ss.
[4] Golah  é um termo hebraico que é usado em referência à comunidade dos judeus da diáspora.
[5]SCHMIDT, Werner H. Introdução ao Antigo Testamento. Trad.: Annemarie Höhn. São Leopoldo, RS: Escola Superior de Teologia e Sinodal, 2004, pp 134-155.
[6] SCHMIDT, Werner H. Introdução ao Antigo Testamento, pp 156-165.
[7] SCHMIDT, Werner H. Introdução ao Antigo Testamento, pp 167-274.
[8] SCHMIDT, Werner H. Introdução ao Antigo Testamento, pp 283-321.